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(NÃO MEXER)

Rabi

Muito antes do nascimento de Cristo, os judeus haviam cessado de ser um povo unido mesmo em questões da lei, embora constituísse a mesma o fator básico para a conservação da solidariedade nacional. Cerca de oitenta anos após a volta do exílio babilônico, e não sabemos com exatidão desde quanto tempo antes dessa época, haviam sido reconhecidos como homens de autoridade certos eruditos, mais tarde chamados de escribas, e reverenciados como rabinos ou mestres. Nos dias de Esdras e Nehemias, esses especialistas da lei formavam uma classe titular, à qual se prestavam honras e deferências. Esdras é designado “o sacerdote, o escriba das palavras do mandamento do Senhor e dos seus estatutos sobre Israel. Os escribas daquele tempo faziam trabalho valioso sob a liderança de Esdras e, mais tarde, de Nehemias, compilando os escritos sagrados então existentes; e, no sistema judeu, aqueles designados como guardiães e intérpretes da lei chegaram a ser conhecidos como membros da Grande Sinagoga ou Grande Assembléia, a respeito da qual temos pouca informação através de canais canônicos. Segundo os registros do Talmud, a organização consistia de cento e vinte eruditos eminentes. O escopo de sua obra, de acordo com a admoestação perpetuada por eles próprios, é assim expresso: Sede cuidadosos no julgamento; formai homens letrados e erguei uma sebe ao redor da lei. Eles seguiram esta injunção, estudando muito e considerando cuidadosamente todos os detalhes tradicionais de administração, multiplicando o número de escribas e rabinos, e, segundo a interpretação de alguns sobre a formatação de homens cultos, escrevendo vários livros e tratados; ademais, ergueram um sebe ou cerca ao redor da lei, adicionando numerosas regras que prescreviam, com grande exatidão, os cânones sociais estabelecidos para cada ocasião.
Os escribas e rabis tinham grande prestígio entre o povo, mais do que aqueles das ordens sacerdotais ou levíticas; e os ditos rabínicos tinham precedência às declarações dos profetas, uma vez que os últimos eram considerados apenas mensageiros ou intérpretes, enquanto os eruditos vivos constituíam por si mesmos fontes de sabedoria e autoridade. Os poderes seculares permitidos aos judeus pela suserania romana eram prerrogativa hierárquica, sendo que os membros dessas hierarquia podiam acumular, praticamente, todas as honras oficiais e profissionais. Como resultado natural desta condição, não havia, praticamente, distinção alguma entre as leis civis e eclesiásticas, tanto com relação ao código como à administração. O rabinismo compreendia, como elemento essencial, a doutrina da autoridade idêntica da tradição oral rabínica e da palavra escrita da lei. O engrandecimento implicado na aplicação do título “Rabi” e a manifestação de soberba, aceitando tal adulação, foram especialmente proibidos pelo Senhor que se proclamou o único Mestre; e quanto à interpretação do título, por alguns com o significado de “pai”, Jesus proclamou que não havia senão um Pai, isto é, Aquele que está no céu: “Vós, porém, não queirais ser chamados Rabi, porque um só é vosso Mestre a saber, o Cristo, e todos vós sois irmãos. E a ninguém na terra chameis vosso Pai, porque um só é vosso Pai, o qual está nos céus.”
Nem vos chameis mestres, porque um só é o vosso Mestre, que é o Cristo.
Os escribas, fossem assim chamados, ou designados pelo título mais ilustre de rabino, foram, repetidamente, denunciados por Jesus, em virtude do literalismo estéril de seus ensinamentos e da ausência do espírito de retidão e conseqüente moralidade viril; e em tais denúncias estão os fariseus freqüentemente incluídos com os escribas. O julgamento de Cristo sobre eles é expressado na imprecação: “Ai de vós escribas e fariseus, hipócritas!”. (Mateus 23:13-15, 23.)
A época ou circunstancias da origem dos fariseus não são estabelecidas por autoridade indiscutível, embora seja provável que a facção ou grupo tenha tido um início relacionado ao retorno dos judeus do cativeiro babilônico. Novas idéias e concepções adicionais do significado da lei foram promulgadas pelos judeus, que se haviam imbuído do espírito da Babilônia; e as inovações resultantes foram aceitas por alguns e rejeitadas por outros. O nome “fariseu” não aparece no Velho Testamento, nem nos apócrifos, embora seja provável que os assídios, mencionados nos livros dos Macabeus, sejam os fariseus originais. Por derivação, o nome expressa a idéia de separatismo; o fariseu, na estimação de sua classe, era distintamente separado do povo comum, a quem se considerava realmente superior, da mesma forma que os judeus em relação a outras nações. Os fariseus e escribas eram um em todos pontos fundamentais de sua crença e o rabinismo era, especificamente, sua doutrina.
No Novo Testamento, os fariseus são freqüentemente mencionados como oponentes dos saduceus; e tais eram as relações entre as duas seitas que é mais simples constrastá-las do que considerar cada uma separadamente. Os saduceus surgiram como organização reacionária, durante o segundo século A.C., em conexão com um movimento de rebeldia contra os Macabeus. Sua plataforma era a oposição à massa sempre crescente de saber tradicional, pelo qual a lei não estava sendo apenas limitada ou cercada para sua segurança, mas sob cujo peso estava sendo sepultada. Os saduceus defendiam a santidade da lei tal como fora escrita e preservada e rejeitavam todos os preceitos rabínicos, tanto os transmitidos oralmente quanto os copiados e codificados nos registros dos escribas. Os fariseus constituíam o partido mais popular; os saduceus representavam a minoria aristocrática. No tempo do nascimento de Cristo, os fariseus existiam como classe organizada, contando com mais de seis mil homens e com a simpatia e colaboração das mulheres judias; enquanto os saduceus formavam uma facção tão pequena e de poder tão limitado que, quando colocados em posições oficiais, geralmente seguiam a política dos fariseus por questão de conveniência. Os fariseus eram os puritanos da época, inflexíveis na exigência do cumprimento das leis tradicionais, assim como da lei original de Moisés. A respeito, note-se a confissão de fé e prática feita por Paulo diante de Agripa – “Conforme a mais severa seita da nossa religião, vivi fariseu.” (Atos 26:5.) Os saduceus orgulhavam-se de cumprir estritamente a lei, como a entendiam, independente de todos os escribas e rabinos. Eles defendiam o templo e suas ordenanças, e os fariseus, a sinagoga e seus ensinamentos rabínicos. É difícil decidir quais eram os mais técnicos, se julgarmos cada grupo pelos padrões de sua própria profissão de fé. Ilustrando: Os saduceus defendiam a imposição literal e completa da penalidade mosaica – olho por olho, dente por dente (Êxodo 21:23-35.) – enquanto os fariseus punham em dúvida, baseados na autoridade da sentença rabínica, considerando apresentar-se o texto em sentindo figurado e que, portanto, a penalidade poderia ser paga em dinheiro ou mercadorias.
Os fariseus e saduceus diferiam em muitos aspectos importantes, senão fundamentais, de crença e prática, incluindo a preexistência de espíritos, a realidade de um estado futuro envolvendo recompensa e punição, a necessidade do desprendimento individual, a imortalidade da alma e a ressurreição dos mortos – aspectos esses defendidos pelos fariseus e negados pelos saduceus. Afirma Josefo que, segundo a doutrina dos saduceus, o corpo e a alma perecem juntos; a observância da lei é tudo com o que se preocupam. Constituíam eles “uma escola céptica de tradicionalistas aristocráticos, fiel apenas à lei mosaica.”
Entre as muitas outras seitas e partidos estabelecidos sobre o terreno das diferenças políticas ou religiosas, ou de ambas, encontramos os essênios, os nazireus, os herodianos e os galileus. Os essênios, caracterizavam-se pela devoção extrema; mesmo o rigor religiosos dos fariseus era por eles considerado fraco e insuficiente; os membros de sua ordem passavam por severas provas, que se estendiam através de um primeiro e de um segundo noviciado; eram proibidos até de tocar qualquer alimento preparado por estranhos; praticavam uma temperança extrema e uma abnegação rígida ao lado do trabalho pesado – de preferência agricultura, e era-lhes vedado negociar como mercadores, participar de guerras e possuir ou empregar escravos. Os nazireus não citados no Novo Testamento, embora especificamente registrados em escrituras anteriores; e, através de outras fontes que não são as Escrituras, sabemos de sua existência durante e após o tempo de Cristo. O nazireu era uma pessoa, de qualquer sexo, obrigada à abstinência e sacrifício por um voto voluntário de serviço a Deus; o período do voto podia ser limitado ou durar toda a vida. Enquanto os essênios cultivavam uma fraternidade ascética, os nazireus devotavam-se à disciplina solitária.
Os herodianos constituíam uma facção político-religiosa, que favorecia os planos dos Herodes, sob a crença de que somente através daquela dinastia o status do povo judeu seria mantido e o restabelecimento da nação assegurado. Encontramos menção dos herodianos, quando, colocando de lado suas antipatias partidárias, se uniram aos fariseus no esforço de condenar o Senhor Jesus e levá-lo à morte. Os galileus, ou povo da Galiléia, distinguiam-se dos israelitas da Judéia pela maior simplicidade e menor alarde de sua devoção em assuntos pertinentes à lei. Opunham-se às inovações e, entretanto, eram mais liberais e menos intolerantes do que os judeus professamente devotos. Nas guerras, eram defensores preeminentes e conquistaram grande reputação por bravura e patriotismo. São mencionados em certas ocorrências trágicas durante a vida de nosso Senhor.
A autoridade do sacerdócio era, aparentemente, reconhecida pelos judeus no tempo de Cristo; e a ordem de serviço, indicada para sacerdotes e levitas, era devidamente observada. Durante o reinado de Davi, os descendentes de Aarão, que eram os sacerdotes hereditários em Israel, tinham sido divididos em vinte e quatro turnos (I Crônicas 24:1-18) e os trabalhos do santuário eram designados a um turno de cada vez. Os representantes de apenas quatro desses turnos retornaram do cativeiro e, com eles, as ordens foram reconstruídas de acordo com o plano original. Nos dias de Herodes, o Grande, as cerimônias eram conduzidas com grande aparato, como que para acompanhar o esplendor da estrutura, que sobrepujava em magnificência todos os santuários anteriores. Os sacerdotes e levitas eram, portanto, solicitados continuamente para servir, embora os indivíduos fossem trocados, a curtos intervalos, de acordo com o sistema estabelecido. Aos olhos do povo, os sacerdotes eram inferiores aos rabinos, e a erudição de um escriba transcendia em honra a ordenação no sacerdócio. A religião da época era mais uma questão de cerimônia e formalidade, de ritual e desempenho; ela havia perdido o espírito da adoração, e a verdadeira ideia da relação entre Israel e o Deus de Israel não era mais um sonho do passado.
Tais eram, em resumo, os traços principais da condição do mundo, particularmente no que concerne ao povo judeu, quando Jesus Cristo nasceu no meridiano dos tempos.
JAMES E. TALMAGE – Jesus, O Cristo, pp. 60-66.

RABIS – O título Rabi é equivalente em nossa língua a doutor, mestre ou professor. Por derivação, significa Mestre ou meu mestre, indicando, portanto, dignidade e posição associadas à cortesia no tratamento. Uma explicação clara do termo é dada por João (1:38) e por Mateus (23:8). Como título respeitoso, foi aplicado a Jesus em diversas ocasiões (Mateus 23:7, 8; 26:25, 49; Marcos 9:5; 11:21; 14; 45; João 1:38, 49; 3:2, 26; 4:31; 6:25; 9:2; 1:8.) O título era de uso comparativamente recente no tempo de Cristo, e parece ter-se tornado comum durante o reinado de Herodes, o Grande, embora mestres anteriores, do tempo em que a classe não tinha o nome de Rabis, fossem geralmente reverenciados, sendo-lhes aplicado o título por uso posterior. Rab era um título inferior, e Raban superior, a Rabi. Raboni expressava o mais profundo respeito, amor e honra (ver João 20:16). No tempo do ministério do Senhor, os Rabis eram tidos em grande estima e regozijavam-se com as manifestações de precedência e honra entre os homens. Pertenciam quase exclusivamente ao poderoso partido farisaico.
A citação seguinte é de Geikie, do livro “Life and Words of Christ”, volume I, capítulo 6: “Se as figuras mais importantes da sociedade da época de Cristo eram os fariseus, é porque eram rabis ou mestres da lei. Como tal, recebiam reverência supersticiosa, que era, na verdade, o grande motivo, para muitos, de cortejar o título ou unir-se ao partido. Os rabis eram comparados a Moisés, os patriarcas e os profetas, e reivindicavam igual reverência. Diz-se que Jacó e José eram, ambos, rabis... O Targum de Jonatas usa a palavra rabis ou escribas em todos os lugares em que aparece a palavra “profetas”. Josefo chama de rabis os profetas dos dias de Saul. No Targum de Jerusalém, todos os patriarcas são rabis cultos... Deviam ser mais queridos em Israel que os pais e mães – porque os pais valem apenas neste mundo (como era então ensinado) e o rabi para sempre. Eram colocados acima dos reis, pois não está escrito ‘Por meu intermédio reinarão os reis’? Sua entrada numa casa trazia bênçãos. Viver ou comer com eles era o maior privilégio... Os rabis iam ainda mais longe exaltando sua origem. O Mishna declara que é maior crime falar qualquer coisa que o desacredite, do que falar contra as palavras da Lei... ainda que em forma a Lei recebesse honra ilimitada. Todos os ditos dos rabis tinham que ser baseados em alguma palavra da mesma, que, entretanto, era explicada à sua própria maneira. O espírito dos tempos, o fanatismo selvagem do povo e sua própria inclinação, colaboravam igualmente para fazê-lo dar valor apenas às cerimônias e exterioridades inúteis, negligenciando completamente o espírito dos escritos sagrados. Mas ainda se acreditava que a Lei não necessitava de confirmação, enquanto as palavras dos rabis, sim. Desde que a autoridade romana sob a qual viviam os deixasse livres, os judeus, voluntariamente, colocavam todo o poder nas mão dos rabis. Eles ou seus representantes preenchiam todos os cargos, desde os mais altos no sacerdócio até os mais inferiores na comunidade. Eram os casuístas, os mestres, os sacerdotes, os juízes, os magistrados e os médicos da pátria... A característica central e dominante dos ensinamentos dos rabis era o advento seguro de um Salvador nacional – o Messias ou Ungido de Deus ou na tradução grega do título, o Cristo. Em nação alguma, senão entre os judeus, havia essa concepção criado tais raízes e demonstrando tal vitalidade... Concordavam os rabis que Seu nascimento seria em Belém e que ele seria da tribo de Judá.”
Alguns rabis, individualmente, reuniram discípulos ao seu redor, tornando-se inevitável a manifestação de rivalidade. Criaram-se escolas e academias rabínicas, dependendo a popularidade de cada uma do prestígio de um certo rabi. As mais famosas dessas instituições no tempo de Herodes I eram a escola de Hillel e a de seu rival Shammai. Mais tarde, a tradição os revestiu do título “pais da antiguidade”. Parece, pelos assuntos triviais sobre os quais os seguidores dessas duas discordavam, que apenas por oposição poderia qualquer de3las manter um lugar de honra. Hillel é considerado avô de Gamaliel, o rabi e doutor da lei a cujos pés Saulo de Tarso, depois Paulo, o apóstolo, recebeu suas primeiras instruções (Atos 22:3). Pelos registros históricos de pontos de vista, princípios e crenaçs advogados pelas escolas rivais de Hillel e Shammai, parece que a primeira defendia um maior grau de liberdade e tolerância, enquanto a última acentuava uma interpretação rígida e possivelmente estreita da lei e tradições a ela associadas. Que as escolas rabínicas dependiam da autoridade da tradição, é ilustrado por um incidente em que o prestígio do grande Hillel não é suficiente para impedir um tumulto, quando uma vez faliu sem citar precendente; somente depois de afirmar que da mesma forma haviam falado seus mestres Abtalion e Shemajah, é que o tumulto cessou.
JAMES E. TALMAGE – Jesus, O Cristo, Notas do Capítulo VI, pp. 68-69

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