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Bíblia - Jesus E A Mulher Samaritana - NT

A rota direta da Judéia à Galiléia passava por Samaria; mas muitos judeus, especialmente os galileus, preferiam percorrer um caminho mais longo a atravessar a terra de um povo tão desprezado com os samaritanos. As desavenças entre judeus e samaritanos vinham crescendo havia séculos, e no tempo do ministério terreno de nosso Senhor, haviam-se transformado no mais intenso ódio. (Nota 1, no final do capitulo.) Havia mistura de raças entre o povo de Samaria, pois nele o sangue de Israel se mesclava com o dos assírios e de outras nações; e uma das causas da animosidade existente entre eles s seus vizinhos, tanto ao norte quanto ao sul, era a pretensão dos samaritanos de serem reconhecidos como israelitas, jactando-se por considerarem Jacó como seu pai; mas isto era negado pelos judeus. Os samaritanos possuíam uma versão do Pentateuco que reverenciavam como lei, mas rejeitavam todos os escritos proféticos do que constitui agora o Velho Testamento, pois consideravam-se tratados com insuficiente respeito em tais escritos.
Para o judeu ortodoxo da época, o samaritano era mais impuro que um gentio de qualquer outra nacionalidade. É curioso notar as extremas e mesmo absurdas restrições então vigentes na questão de regular relações inevitáveis entre os dois povos. O testemunho de um samaritano não podia ser ouvido diante de um tribunal judeu. Ingerir alimento preparado por um samaritano foi, para um judeu, considerado em certa época pela autoridade rabínica, uma ofensa tão grande, quanto comer carne de porco. Embora fosse admitido que a produção de um campo de Samaria não era impura, visto que brotava diretamente do solo, tal produção tornava-se impura, se submetida a qualquer tratamento sob as mãos dos samaritanos. Assim sendo, uvas e cereais podiam ser comprados dos samaritanos, mas nem o vinho e nem a farinha provenientes dos mesmos, quando manufaturados pelo povo de Samaria. Em certa ocasião, o epíteto “samaritano” foi lançado a Cristo como insulto intencional. “Não dizemos nós bem que é samaritano, e que tens demônios” (João 8:48.) A concepção samaritana da missão do esperado Messias era mais bem fundamentada que a dos judeus, pois os samaritanos davam maior preeminência ao reino espiritual que o Messias havia de estabelecer, e eram menos exclusivistas em suas ideias quanto a quem se estenderiam as bênção messiânicas.
Em sua jornada para a Galiléia, Jesus tomou o caminho mais curto, através de Samaria; e, indubitavelmente, sua escolha tinha um propósito, pois lemos que “era-lhe necessário passar por aquele caminho.” (João 4:4; para os incidentes seguintes ver os versículos 5 a 43.) A estrada atravessava ou contornava a cidade de Sicar, (Nota 2, no final do capítulo.) “junto da herdade que Jacó tinha dado a seu filho José.” (Gênesis 33:19; e Josué 24:32.) Lá ficava a fonte de Jacó, tida em alta conta, não apenas por seu valor intrínseco como manancial inesgotável de água, mas também por sua associação com a vida do grande patriarca. Jesus, exausto e alquebrado pela viagem, descansou junto à fonte, enquanto seus discípulos se dirigiam à cidade para comprar alimento. Uma mulher veio encher seu cântaro e Jesus lhe disse: “Dá-me de beber.” Pelas regras então vigentes da hospitalidade oriental, um pedido de água nunca devia ser recusado, se houvesse possibilidade de atendê-lo; entretanto, a mulher hesitou, pois assombrou-se de que um judeu solicitasse um favor a um samaritano, por maior que fosse a necessidade. Ela expressou sua surpresa na pergunta: “Como, sendo tu judeu, me pedes de beber a mim, que sou mulher samaritana? Porque os judeus não se comunicam com os samaritanos.” Jesus, aparentemente esquecido da sede, em seu desejo de ensinar, respondeu-lhe dizendo: “Se tu conheceras o dom de Deus, e quem é o que te diz: Dá-me de beber, tu lhe pedirias, e ele te daria água viva.” A mulher lembrou-lhe que ele não tinha balde nem corda com que tirar água do poço profundo, e inquiriu-o quanto ao significado de suas palavras, acrescentando: “És tu maior do que o nosso pai Jacó, que nos deu o poço, bebendo ele próprio dele, e os seus filhos, e o seu gado?”
Jesus percebeu nas palavras da mulher um espírito semelhante àquele com que o erudito Nicodemos havia recebido seus ensinamentos; ambos falharam igualmente em perceber a lição espiritual que ele transmitia. Jesus explicou à mulher que a água do poço seria de benefício apenas temporário; a sede retornaria àquele que dela bebesse; “Mas”, acrescentou ele, “aquele que beber da água que eu lhe der se fará nele uma fonte d’água que salte para a vida eterna.” O interesse da mulher foi vivamente aguçado, ou pela curiosidade ou por uma emoção de caráter mais profundo, pois, transformando-se agora na suplicante e dirigindo-se a ele por um título respeitoso, disse: “Senhor, dá-me dessa água, para que não mais tenha sede e não venha aqui tirá-la.” Ela nada podia enxergar além da vantagem material ligada à água que de uma vez por todas mataria a sede. O resultado da bebida que tinha em mente seria conferir-lhe imunidade contra uma premência corporal, poupando-lhe o trabalho de vir servir-se da fonte.
O assunto da conversação foi mudado abruptamente por Jesus, que lhe disse que fosse, chamasse seu marido, e retornasse. À sua resposta de que não tinha marido, Jesus revelou-lhe seus poderes sobre-humanos de discernimento, afirmando que ela falara a verdade, pois que tivera cinco maridos, conquanto o homem com quem estão morava não fosse seu marido. Certamente, nenhum ser comum poderia ter assim lido a triste história de sua vida; ela, impulsivamente, confessou essa convicção, dizendo: “Senhor, vejo que és profeta.” Quis então mudar de assunto, e apontando para o Monte Gerizim, sobre o qual o sacrílego sacerdote Manassés havia erigido um templo samaritano, comentou, sem muita relação com o que havia sido dito antes: “Nossos pais adoraram neste monte, e vós dizeis que é em Jerusalém o lugar onde se deve adorar.” Jesus replicou com ainda maior profundidade, explicando-lhe que se aproximava o tempo em que nem aquela montanha nem Jerusalém seriam especialmente um lugar de adoração; e censurou abertamente sua presunção de que a crença tradicional dos samaritanos fosse tão boa quanto a dos judeus, pois disse ele: “Vós adorais o que não sabeis; nós adoramos o que sabemos porque a salvação vem dos judeus.” Embora alterada e corrompida como se tinha tornado a religião judaica, era ainda melhor que a de seu povo, pois os judeus aceitavam os profetas, e através de Judá tinha vindo o Messias. Mas, como lhe explicou Jesus, o local de adoração era de menor importância que o espírito do adorador. “Deus é Espírito, e importa que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade.”
Incapaz, ou não desejosa de compreender, a mulher procurou por fim à lição com um comentário, que para ela, provavelmente, era apenas casual: “Eu sei que o Messias (que se chama o Cristo) vem; quando ele vier, nos anunciará tudo.” Então, para seu profundo pasmo, Jesus replicou com a espantosa declaração: “Eu o sou, eu que falo contigo.” A linguagem foi inequívoca, a afirmativa de natureza tal a não requerer elucidação. A mulher, depois disso, tinha que considerá-lo como um impostor ou o Messias. Abandonou seu cântaro na fonte, e correndo à cidade, relatou sua experiência, dizendo: “Vinde, vede um homem que me disse tudo quanto tenho feito; porventura não é este o Cristo?”
Quase ao final da entrevista entre Jesus e a mulher, os discípulos voltaram com as provisões que tinham ido procurar. Maravilharam-se ao encontrar o Mestre conversando com uma mulher, e ainda mais uma samaritana, no entanto, nenhum deles lhe pediu uma explicação. Sua atitude deve tê-los impressionado com a seriedade e solenidade da ocasião. Quando instaram com ele para que comesse, ele disse: “Uma comida tenho para comer, que vós não conheceis.” Para eles, suas palavras não tinha significado algum, além do sentido literal, e indagaram entre si se alguém lhe havia levado comida durante a ausência deles; mas Jesus os esclareceu desta maneira: “A minha comida é fazer a vontade daquele que me enviou, e realizar a sua obra.” Uma multidão de samaritanos apareceu, vinda da cidade. Considerando o povo e os campos de cereal circunvizinhos, Jesus continuou: “Não dizeis vós que ainda há quatro meses até que venha a ceifa? Eis que eu vos digo: Levantai os vossos olhos, e vede as terras, que já estão brancas para ceifa.” Parece que o significado da afirmação era que meses se passariam antes que o trigo e a cevada estivessem prontos para a ceifa, enquanto a colheita de almas, exemplificada pela multidão que se aproximava, já estava pronta; e que daquilo que ele havia plantado, os discípulos ceifariam, com inestimável vantagem, uma vez que receberiam salário pelo seu serviço e colheriam os frutos de um trabalho alheio.
Muitos dos samaritanos acreditaram em Cristo, inicialmente pela força do testemunho da mulher, e depois em virtude de sua própria convicção; e disseram à mulher, por cuja insistência tinha ido conhecê-lo: “Já não pelo teu dito que nós cremos; porque nós mesmos o temos ouvido, e sabemos que este é verdadeiramente o Cristo, o Salvador do mundo.” Graciosamente atendeu ao pedido que de que ficasse com eles, lá permanecendo por dois dias. É indubitável que Jesus não partilhava do preconceito nacional dos judeus contra o povo de Samaria; aceitava uma alma honesta, viesse de onde viesse. É provável que a semente plantada durante esta breve permanência de nosso Senhor entre o povo desprezado de Samaria tenha sido aquela da qual colheita tão rica foi ceifada pelos apóstolos em anos subsequentes. (Atos 8:5; 9:31; 15:3.)
JAMES E. TALMAGE – Jesus, O Cristo, Capítulo XIII, pp. 167-171.



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