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(NÃO MEXER)

Pedro – Apóstolo - NT

Simão, apontado como o primeiro apóstolo, é mais comumente conhecido por Pedro – nome que lhe deu o Senhor na ocasião em que se conheceram, e confirmou posteriormente. (João 1:42; comparar com Mateus 16:18.) Era filho de Jona, ou Jonas, e tinha a profissão de pescador. Ele e seu irmão André eram sócios de Tiago e João, filhos de Zebedeu; a pesca era um negócio próspero, pois eles eram proprietários de barcos e empregavam outros homens. (Marcos 1:16-20; Lucas 5:10.) O lar de Pedro era a pequena aldeia de Betsaida, (João 1:44; 12:21.) na costa ocidental do Mar da Galiléia; mas, na época de seus primeiros contatos com Jesus, ou logo em seguida, Pedro e outros de sua família mudaram-se para Capernaum, onde parece que ele se tornou um proprietário independente. (Mateus 8:14; Marcos 1:29; Lucas 4:38.) Simão Pedro havia-se casado antes de sua chamada ao ministério. Encontrava-se em boa situação financeira; e quando uma vez afirmou haver deixado tudo para seguir Jesus, o Senhor não negou que o sacrifício de Pedro, quanto aos seus bens temporais, tivesse sido tão grande quanto sugerido. Não há razões que justifiquem considera-lo iletrado ou ignorante. É verdade que tanto ele quanto João foram considerados pelos membros do Sinédrio como “homens sem letras e indoutos”, (Atos 4:13.) mas isto foi dito por sobre eles, indicando sua falta de treino nas escolas rabínicas; e é digno de nota o fato de que os membros do mesmo conselho se maravilharam diante da sabedoria e poder manifestados pelos dois apóstolos, a quem afirmavam desprezar.
Pedro possuía um temperamento impulsivo e intrépido, mas faltava-lhe firmeza até ser treinado através de experiências árduas. Tinha muitas fraquezas humanas, mas, a despeito delas, eventualmente, superou as tentações de Satanás e as debilidades da carne e serviu seu Senhor como o líder designado e reconhecido dos Doze. As Escrituras não mencionam a época e o local de sua morte; mas a maneira como aconteceu foi prenunciada pelo Senhor ressuscitado (João 21:18, 19.) e, em parte, prevista pelo próprio Pedro (2 Pedro 1:14.). A tradição, que teve origem nos escritos dos primeiros historiadores cristãos – outros que não os apóstolos – afirma que Pedro morreu crucificado, como mártir, durante a perseguição do reinado de Nero, provavelmente entre 64 e 68 D.C. Orígenes declara que o apóstolo foi crucificado de cabeça para baixo. Pedro, com Tiago e João, seus companheiros na presidência dos Doze, ministrou na atual dispensação como ser ressuscitado, restaurando na terra o Sacerdócio de Melquisedeque, incluindo o Santo Apostolado, que havia sido retirado em consequência, da apostasia e descrença dos homens. (D. & C. 27:12. Página 746 deste livro – Capítulo XLI O Sacerdócio de Melquisedeque conferido por Pedro, Tiago e João.)
JESUS, O CRISTO – James E. Talmage, Capítulo XVI, pp.211-212.

Compadeço-me de Pedro. Muitos de nós somos semelhantes a ele. Garantimos nossa lealdade; expressamos nossa determinação de sermos corajosos; declaramos, algumas vezes publicamente, que, aconteça o que acontecer, faremos o que é certo, apoiaremos as causas certas e seremos verdadeiros para com nós mesmos e para com os outros.
Sobrevêm, porém, as pressões. Algumas são de natureza social, outras são apetites pessoais e, algumas vezes, manifestam-se na forma de falsas ambições. A força de vontade enfraquece, a disciplina esmorece e vem a capitulação. Seguem-se o remorso, a auto-acusação e as lágrimas amargas do
arrependimento. (...)
Se houver na Igreja aqueles que, por palavras ou ações, tenham negado a fé, oro para que encontrem conforto e decisão no exemplo de Pedro, que, apesar de caminhar diariamente ao lado de Cristo, num momento extremo, ainda que breve, negou o Senhor e o testemunho que tinha em seu próprio coração, mas conseguiu sobrepujar seu erro e tornou-se um grande defensor e incansável protetor. Portanto, qualquer pessoa pode transformar-se e somar sua fé e sua força à fé e força de outros para construírem o reino de Deus. (“E Saindo Pedro (...) Chorou Amargamente”, A Liahona, agosto de 1995, pp. 4,5.)
PRESIDENTE GORDON B. HINCKLEY – O Novo Testamento, Manual do Professor de Doutrina do Evangelho, lição 26, p.109.

Todas as lições sobre padrões éticos e viver espiritual justo estão contidas nas obras-padrão. Nelas se encontram as recompensas da retidão e as penalidades do pecado.
Aprendemos lições de vida de modo mais direto e seguro se virmos os resultados da iniquidade e da retidão na vida das outras pessoas. (...) É inspirador ver o crescimento de Pedro com o evangelho como catalisador — ele que era um simples pescador sem cultura, instrução e conhecimento, considerado ignorante por todos — e tornar-se um grande organizador, profeta, líder, teólogo, professor. (...)
PRESIDENTE SPENCER W. KIMBALL – Ensinamentos dos Presidentes da Igreja, lição 6, p.72-73.

Como a compreensão da ressurreição é uma âncora para nossa alma?
Examinemos o exemplo de Pedro, [que] (...) negou o Mestre três vezes na noite de Sua traição. Comparemos seu temor inicial com a coragem que demonstrou pouco depois diante daqueles mesmos perseguidores religiosos que pouco antes haviam exigido a morte de Jesus. Ele denunciou-os como assassinos e chamou-os ao arrependimento, foi preso e depois seguiu destemidamente para seu próprio martírio.
O que o fez mudar? Ele testemunhara pessoalmente as transformações que tornaram aquele corpo dilacerado e inerte que fora retirado da cruz num glorificado corpo ressurreto. A resposta pura e simples é que Pedro mudara porque conheceu o poder do Senhor ressurreto. Ele não estaria mais sozinho nas praias da Galiléia, na prisão ou na morte. Seu Senhor estaria sempre a seu lado.
PRESIDENTE HAROLD BINGHAM LEE – Ensinamentos dos Presidentes da Igreja, lição 23, pp. 221-222..

PEDRO, MEU IRMÃO
ÉLDER SPENCER W. KIMBALL
Desejo falar-lhes hoje a respeito de meu irmão, meu amigo, meu companheiro apóstolo, Simão Barjonas, Cefas, ou Pedro, a Rocha.
Há algum tempo, o jornal de uma cidade distante publicou um editorial religioso, num Domingo de Páscoa. O ministro que o escreveu afirmava que a autoridade que presidia a igreja primitiva havia caído, devido à sua auto-confiança, indecisão, maus companheiros, falta de oração, ausência de humildade e temor ao homem. Depois, concluiu:
“Espero que nós, como um povo, e especialmente os que são cristãos e clamam viver pela palavra de Deus, não cometamos os mesmos erros e caiamos, como Pedro o fez.” (Reverendo Dorsey R. Dent, “A Message for This Week.”)
Ao ler isso, senti algo estranho. Fiquei chocado, senti arrepios, meu sangue mudou de temperatura e começou a ferver.
Achei-me perversamente atacado, pois Pedro era meu irmão, meu amigo, meu exemplo, meu profeta e o ungido de Deus. Disse a mim mesmo: “Isto não é verdade. Ele está caluniando meu irmão.”

UM HOMEM DE VISÃO
Então abri meu Novo Testamento. Não pude encontrar tal personagem, como descrito por esse ministro de nossos dias. Ao invés, encontrei um homem que havia alcançado a perfeição através de suas experiências e sofrimentos. Um homem com visão, um homem de revelações, um homem em quem o Senhor Jesus Cristo depositava toda a sua confiança.
Lembro-me do momento terrível e decepcionante em que negou, por três vezes, conhecer o Senhor. Lembro-me de seu arrependimento, que o levou às lágrimas. Muitas vezes foi ele censurado pelo Mestre, mas aprendeu, pela experiência e parece que jamais cometeu outra vez o mesmo erro. Vejo um humilde pescador, sem conhecimento ou experiência, subir gradualmente, sob a direção do Mestre de todos. Ao pináculo da fé, da liderança audaz, do testemunho inabalável, da coragem sem igual, e de um entendimento quase ilimitado. Vejo um discípulo leigo tornar-se o apóstolo principal e presidir a igreja e reino do Senhor. Ouço sua respiração forte ao subir diligentemente a encosta íngreme do Monte da Transfiguração. Ali, ele vê e ouve coisas indescritíveis e tem a experiência transcendente de estar na presença de seu Deus, Eloim, de Jeová, seu Redentor, e de outros seres celestiais.
Seus olhos haviam visto, seus ouvidos escutado e seu coração havia entendido e aceito acontecimentos assombrosos, desde os dias do batismo do Mestre nas águas do Jordão, até a ascensão de seu Redentor, no Monte das Oliveiras.
Vejo esse grande líder assumir a presidência da igreja. Vejo o doente e o inválido levantarem-se, retornando à saúde e à normalidade. Ouço seus sermões poderosos. Vejo-o caminhar firme e inflexível para o martírio e tomar da amarga taça.
Mas aquele ministro sectário depreciou-o, criticou-o sem misericórdia e o rebaixou.
Muitas das críticas dirigidas a Simão Pedro dizem respeito ao fato de haver negado o Mestre. Isso tem sido rotulado de “covardia”. Temos certeza do motivo real de sua atitude? Ele havia desistido de sua profissão e colocado todas as coisas do mundo no altar, a favor da causa. Se admitirmos que ele foi um covarde e que negou o Senhor por medo, ainda assim poderemos encontrar uma boa lição. Será que alguém sobrepujou mais completamente o egoísmo e as fraquezas mortais? Será que alguém já se arrependeu mais sinceramente? Pedro tem sido acusado de ser severo, indiscreto, impulsivo e medroso. Se tudo isso fosse verdade, ainda assim perguntaríamos: Será que algum homem já triunfou mais completamente sobre suas fraquezas?

O PRIMEIRO APÓSTOLO
Havia homens bons entre os seguidores do Senhor, mas mesmo assim, Cefas foi escolhido como o número um. O Senhor conhecia bem a integridade de Natanael, a afetuosidade sensível de João, a grande cultura de Nicodemos. A fidelidade e devoção de Tiago e dos outros irmãos. Cristo conhecia os pensamentos mais íntimos dos homens e observava suas manifestações de fé. Em suma, ele conhecia os homens; ainda assim, escolheu, dentre todos eles, aquele personagem que possuía virtudes, poderes e espírito de liderança necessários para dar estabilidade à igreja, levar os homens a aceitar o evangelho e seguir a verdade.
Quando Cristo escolheu esse pescador como seu primeiro e principal apóstolo, não estava se arriscando. Tinha em mãos um diamante bruto – um diamante que precisava ser cortado, lapidado e polido, por meio de advertências, repreensão e de tribulações – ainda assim um diamante de qualidade superior. O Salvador sabia ser possível confiar nesse apóstolo, para dar-lhe as chaves do reino, o poder para selar e desligar. Como qualquer ser humano, Pedro poderia cometer alguns erros, em seu processo de desenvolvimento, mas seria sensato, merecedor e digno de confiança, na qualidade de líder do reino de Deus. Mesmo com um professor tão perfeito, era difícil aprender o grande plano do evangelho em três anos.
Pedro perguntou a Jesus:
“Eis que nós deixamos tudo e te seguimos; que receberemos?”
“E Jesus disse-lhe: Em verdade vos digo que vós que me seguistes, quando na regeneração, O Filho do homem se assentar no trono da glória, também vos assentareis sobre doze tronos, para julgar as doze tribos de Israel.” (Mateus 19:27,28.)
É concebível que o Senhor onisciente daria todos esses poderes e chaves a alguém que fosse um fracasso ou que não fosse digno?
Se Pedro era covarde, quão valoroso se tornou em tão pouco tempo! Se era fraco e vacilante, quão forte e positivo se tornou em semanas e meses! Aceitar a responsabilidade é um processo de refinamento e purificação que leva tempo para ser desenvolvido.
Se Pedro estava temeroso, na corte, quando negou sua associação com o Senhor, quão destemido foi, algumas horas antes, quando desembainhou a espada contra o inimigo, a turba que viera à noite.. Mais tarde, desafiando o povo, o estado e os oficiais da igreja, declarou claramente: “A este (o Cristo) ...tomando-o vós, o crucificastes e matastes pelas mãos de injustos.” (Atos 2:23) Ao povo assombrado por vê-lo curar o aleijado na Porta Formosa, exclamou:
“Varões israelitas... o Deus de nossos pais glorificou a seu filho Jesus, a quem vós entregastes e perante a face de Pilatos,,, negastes o Santo... e matastes o Príncipe da vida, ao qual Deus ressuscitou dos mortos, do que nós somos testemunhas.” (Atos 3:12-15.)
Isso demonstra covardia? Uma declaração bem audaz, para uma pessoa tímida. Lembrem-se de que Pedro jamais negou a divindade de Cristo. Apenas negou sua associação ou conhecimento do Cristo, o que é um fato bem diferente.
Será que foi por achar-se confuso e frustrado, que Pedro o negou? Poderia ainda haver qualquer falta de entendimento concernente a todo o plano do Senhor? Sendo um líder, ele era o alvo principal do adversário, pois, como disse Jesus:
“Simão, Simão, eis que Satanás te pediu para cirandar como o trigo:
 Mas eu roguei por ti, para que a tua face não desfaleça”. (Lucas 22:31-32.)
Pedro se encontrava sob o constante ataque do inimigo, pois todas as hostes do inferno estavam contra ele. As sortes foram lançadas na corte, e os judeus optaram pela crucificação do Salvador. Se Satanás agora pudesse também destruir a Pedro, que grande vitória conseguiria! Ele era o maior de todos os homens vivos, e Lúcifer desejava confundi-lo, frustrá-lo, limitar-lhe o prestígio e destruí-lo totalmente. Todavia, tal não aconteceria, pois ele fora escolhido e ordenado na preexistência para um elevado propósito, como acontecera a Abraão.
Simão seguiu o mestre até o local onde seria julgado, e sentou-se no pátio exterior. Que mais poderia fazer? Ele sabia que muitas vezes o próprio Salvador havia escapado da turba esgueirando-se de suas garras. Talvez isso acontecesse novamente.
O Senhor dissera repetidas vezes que se aproximava o dia em que seria crucificado e ressuscitaria; entretanto, nem Pedro ou qualquer outra pessoa entendiam plenamente o que significava essa declaração. Esses acontecimentos eram estranhos para ele? Jamais houvera qualquer pessoa sobre a terra que fosse capaz de morrer e ressuscitar. Milhões de pessoas, hoje em dia, não conseguem compreender a ressurreição, muito embora tenha sido pregada por mais de mil e novecentos anos como uma realidade corroborada por inúmeras provas irrefutáveis. Poderiam então os apóstolos, ser criticados por não compreender uma situação desorientadora?
É possível que a tripla negação de Pedro tenha sido baseada em qualquer outro motivo? Será que ele achou que as circunstâncias justificavam tal medida? Quando o Salvador testificou em Cesárea de Felipe, ele disse a seus discípulos “que a ninguém dissessem que ele era o Cristo”. (Mateus 16:20.)
Quando os três apóstolos desceram do Monte da Transfiguração, foram novamente advertidos implicitamente: “A ninguém conteis a visão, até que o Filho do homem seja ressuscitado dos mortos.” (Mateus 17:9.) É possível que Pedro tenha sentido que aquela não era a ocasião adequada para falar a respeito de Cristo? Ele estivera ao lado do Senhor de Nazaré, no momento em que o Salvador foi levado por seu próprio povo ao cume do monte “em que a cidade deles estava edificada, para dali o precipitarem. Ele, porém, passando pelo meio deles, retirou-se.” (Lucas 4:29-30.) Certamente Pedro não considerou essa fuga como um ato de covardia, mas sim de sábia habilidade. A hora de Cristo ainda não havia chegado.

A IMINENTE CRUCIFICAÇÃO
Quando o Senhor tentou energicamente explicar a hora amarga que se aproximava e declarou “que convinha ir a Jerusalém, e padecer muito dos anciãos e dos principais dos sacerdotes, e dos escribas, e ser morto e ressuscitar ao terceiro dia.” – Pedro tentou dissuadi-lo de pensar em tal calamidade. (Ver Mateus 16:21.) Ele foi prontamente repreendido por sugerir ao Salvador que fugisse da tragédia. Talvez ele devesse ter entendido que aqueles horríveis acontecimentos eram a vontade do Senhor...
Pedro pode não ter compreendido muito bem, que a hora estava às portas, porém o próprio Redentor o proibiu de oferecer qualquer resistência quando ele fosse crucificado. Simão sentiu-se frustrado ao receber semelhante mandamento? Talvez tenha ficado aturdido por alguns instantes, mas, quantos de nós, ao se encontrarem num lugar tão hostil, sem a menor esperança de salva-lo, defenderiam o Senhor sob tais circunstâncias, especialmente quando os esforços anteriores haviam sido completamente baldados? Pedro já não havia, sem receber qualquer ajuda, levantado sua espada contra uma “grande multidão com espadas e varapaus”? (Mateus 26:47.) Não tinha tentado defender o Senhor da turba que tentara prende-lo, e ele não o impedira?
O Salvador saíra confiante do Jardim do Getsêmani, aparentemente resignado com o sacrifico inevitável que teria de fazer. Simão havia, com destemor, manifestado a disposição de lutar sozinho conta a turba, para proteger seu Mestre. Arriscando sua própria vida ele havia atacado o desprezível Malco e decepara-lhe a orelha. Porém o Senhor se opôs àquele ato de bravura e dedicação pessoal, e disse a seu leal apóstolo:
“Mete no seu lugar a sua espada; porque todos os que lançarem mão da espada à espada morrerão.”
“Ou pensas tu que eu não poderia agora orar a meu Pai, e que ele não me daria mais de doze legiões de anjos?” (Mateus 26:52-53.)
O que mais poderia ter feito? Que outra atitude deveria tomar para demonstrar sua lealdade e coragem? Será que nessas últimas horas da vida do Salvador, ele não foi levado a pensar que devia deixar de protegê-lo, que sua crucificação era algo inevitável, e que por mais que fizesse, o Senhor não deixaria de seguir o destino? Não sou capaz de lhes dizer. Sei apenas que este apóstolo era bravo e destemido.
Os eventos se sucederam em rápida sequência. Enquanto estava no Getsêmani, encontramos Pedro num momento tentando defender inutilmente o Senhor, e noutro seguindo a turba enfurecida. Aparentemente o Salvador esta permitindo que os homens cometessem as maiores indignidades no que dizia respeito a ele. O que Pedro poderia fazer?
Ele, numa outra ocasião, destemida e significativamente declarou ao Salvador: “Ainda que todos se escandalizem em ti, eu nunca me escandalizarei.” (Mateus 26:33.) Ao que o Senhor respondeu: “Nesta mesma noite, antes que o galo cante, três vezes me negarás.” (Mateus 26:34.)
Aquele era um momento crítico. A atitude protetora que Pedro tomou ao brandir a espada, ocorreu pouco depois destas palavras proféticas. Ele havia tentado defendê-lo. Simão tivera a oportunidade de ver um dos apóstolos trair o Mestre com um beijo, e ele não o repelira. O Senhor o fizera lembrar-se de que poderia chamar os anjos, se precisasse de auxílio, e ordenara que guardasse a espada. Mesmo agora, ele não havia abandonado seu Mestre, e o seguiu pesaroso atrás da multidão exultante, e havia se decidido a segui-lo até o fim. Pedro ouviu todas as acusações que fizeram contra Cristo, presenciou as indignidades cometidas contra ele, sentiu a grande injustiça que houve naquele simulacro de julgamento, e observou a perfídia das falsas testemunhas, perjurando suas próprias almas. Viu os escarnecedores cuspirem na face do Santo, esbofeteá-lo, soca-lo e escarnece-lo, sem que ele oferecesse a menor resistência nem convocasse a proteção das legiões angelicais, pedindo misericórdia. O deveria pensar então?

SUA NEGAÇÃO
Uma jovem que se encontrava por ali, acusou Pedro, “Tu também estavas com Jesus, o Galileu.” (Mateus 26:69.) De que adiantaria defender o Senhor naquela ocasião? Será que isso lhe agradaria? Tal atitude não destruiria a própria vida de Pedro, ao invés de ter um efeito benéfico? Será que Cristo gostaria de que ele lutasse naquele momento, quando naquela manhã lhe havia negado esse privilégio?
Então outra criada declarou aos vilões e espectadores: “Este também estava com Jesus, o nazareno.” (Mateus 26:71.) E Pedro respondeu: “Não conheço tal homem.” (Mateus 26:72.) E outros ainda, reconhecendo seu sotaque Galileu, declararam: “Verdadeiramente também tu és deles, pois a tua fala te denuncia.” (Mateus 26:73.)
Como poderia agir? Poderia fazer mais alguma coisa? Qual teria sido o resultado, se tivesse admitido sua associação com Cristo? Teria vivido para presidir a igreja? Pedro vira muitas vezes o Salvador escapar das multidões e esconder-se dos assassinos. É concebível que Pedro também tenha achado a sua negação proveitosa à causa de Cristo? Será que ele entendera plenamente o significado que se achava implícito na frase que Jesus tantas vezes repetira: “Ainda não é chegada a minha hora” (João 2:4), e compreendia que “Agora é glorificado o Filho do homem” (João 13:31)?
 Não pretendo saber como Pedro reagiu mentalmente, nem o que o compeliu a proferir tais expressões negativas naquela terrível noite. Porém, considerando sua denodada bravura, coragem, grande devoção e ilimitado amor que sentia pelo Mestre, não poderíamos deixar de dar-lhe o benefício da dúvida, ou pelo mesmo de perdoa-lo completamente, como o Salvador parece ter feito, pois imediatamente após, elevou-o à mais elevada posição da igreja, e conferiu-lhe todas as chaves daquele reino.
Simão Barjonas não teve tempo de reconsiderar sua atitude e mudar a decisão que havia tomado, pois o galo cantou duas vezes e ele lembrou-se do que Cristo havia predito, e humilhou-se até o pó. Ao ouvir aquela ave anunciar o amanhecer, Pedro lembrou-se não somente de que havia negado ao Senhor, mas também de tudo o que ele dissera que acontecia. Até mesmo a crucificação, e chorou amargamente. As lágrimas que derramou eram apenas motivadas pelo arrependimento pessoal, ou se haviam misturado com as lágrimas sinceras de pesar que verteu ao conscientizar-se do destino de seu Senhor e Mestre, e da grande perda que representava para ele?
Passaram-se apenas algumas horas até o momento em que ele foi um dos primeiros a chegar ao sepulcro, encabeçando um grupo de fiéis. Transcorreram mais algumas semanas até o momento em que se reuniu com os santos e os organizou numa comunidade compacta, forte e unida. Não muito tempo depois, Pedro foi atirado numa prisão, onde sofreu as maiores afrontas, e foi “joirado como o trigo”, conforme Cristo havia predito. (Ver Lucas 22:31.

DE ORIGEM HUMILDE
Simão Pedro, filho de Jonas, começou sua carreira incomparável sob as mais humildes circunstâncias. Esse simples pescador, que antes era considerado um homem “iletrado e indouto”, subiu a escada do entendimento até conhecer, talvez como nenhuma outra pessoa vivente, seu Pai, Eloim; o filho, Jeová, e o plano de Cristo e sua relação com os homens. Era espiritualizado e devoto. Veio sem precisar ser persuadido, provavelmente caminhando ao longo do Jordão, para ouvir sermões poderosos do destemido João Batista. Pouco sabia das grandes coisas que lhe estavam reservadas. Ali, ouviu a voz do profeta e talvez tenha sido batizado por ele.
O irmão de Pedro, André, declarou: “Achamos o Messias (que, traduzido, é o Cristo).” (João 1:41.) Eles, sem dúvida, haviam escutado a declaração de João Batista: “Eis o cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo.” (João 1:29.) Mas, ouvir a voz do Pai vivo, Deus, reconhecer Jesus como seu Filho Unigênito, deve haver agitado profundamente a alma deste humilde pescador.
Simão Pedro não estava bem preparado, nessa ocasião, para assumir grande responsabilidade, mas o Mestre conhecia seu potencial. No dia de seu chamado, deu-se início ao treinamento intensivo que iria levar esse homem humilde e seus associados à grande liderança, imortalidade e vida eterna.
A educação de Simão Pedro, tanto secular como espiritual, havia sido limitado, mas agora ele seguia o Mestre dos mestres. Ouviu o Sermão da Montanha; permaneceu com o Redentor no barco e ouviu os sermões magistrais dirigidos ao povo que se achava congregado. Sentou-se nas sinagogas, ouvindo as convincentes e poderosas declarações do Criador. As escrituras foram-lhe reveladas, ao viajar pelas estradas empoeiradas e pedregosas da Galiléia. Com certeza, suas inúmeras perguntas foram respondidas pelo Senhor, enquanto comiam, dormiam e andavam juntos. As horas eram preciosas como jóias raras. Ouviu as parábolas dirigidas ao povo e aprendeu as lições que continham.
Pedro presenciou a divindade fluir sem cessar, na revelação contínua de um novo modo de vida. Entendeu muitas lições, rapidamente, mas teve dificuldade em compreender as experiências que nunca haviam ocorrido antes na terra. Percebia a sombra escura e as nuvem baixas, mas não podia entender o seu significado. Nenhum personagem, em sua experiência, havia dado a vida desse modo. Nenhuma alma, na terra, havia sido ressuscitada. Levou algum tempo para essas verdades impressionantes penetrarem em sua mente. Era difícil para ele pensar apenas em liderança espiritual. Pedro esperava que o Cristo desembainhasse a espada e redimisse Israel. Mas, após a experiência em Getsêmani, quando o corrido no Gólgota se tornou um horrível pesadelo, quando o Senhor ressuscitou e subiu ao céu e quando veio o Consolador, a verdade grandiosa e incontestável irrompeu e foi gravada em sua mente. As partes do quebra-cabeças haviam sido arranjadas, formando um belíssimo desenho, que se constituía na gloriosa realidade; e Pedro, Tiago e João, e seus companheiros, saíram para converter um mundo inflexível e obstinado.
Pedro era um homem cheio de fé. Jamais vacilou desde os dias em que deixou as redes e barcos, seus pés nunca o fizeram voltar. Mesmo quando negou o Senhor, estava o mais perto possível dele. Quem quiser criticar esse apóstolo, deve colocar-se em seu lugar – em meio aos piores inimigos, perseguidores e assassinos, com um conhecimento crescente da inutilidade de defender o seu Senhor, cuja hora havia chegado. Ele, que perdoou aos que o crucificaram, perdoou também àquele que o havia negado.
Pedro era um homem de fé. Curava os doentes, ao passarem simplesmente por sua sombra. As paredes das prisões não podiam detê-lo. Graças a ele, os mortos reviveram. Andou por cima das águas. Embora não obtivesse triunfo total nessa tentativa, conseguiu mais do que qualquer outro ser humano. Quem zombar da hesitação momentânea de Pedro, deverá tentar essa façanha por si mesmo.
Simão Pedro era humilde. Apreciava Tiago e João, que estavam com ele no Monte Santo, e que com compartilharam as tristezas do Getsêmani. Talvez seu primeiro ato oficial, como autoridade presidente, foi o de convocar uma conferência, na qual os santos deveriam votar para o preenchimento da vaga no Quórum dos Doze, Uma nova testemunha foi escolhida.
Quando o coxo andou, após a ministração de Pedro e João, e quando o povo, assombrado, abriu a boca e maravilhou-se, Pedro atribuiu o mérito ao Deus de Israel, dizendo: “Por que olhais tanto para nós, como se por nossa própria virtude ou santidade fizéssemos andar esse homem?” (Atos 3:12.) E, na ocasião em que Dorcas (Tabita) jazia morta, não houve nenhum alarde ou exibicionismo. Ele simplesmente “os fez sair, pôs-se de joelhos e orou”, apresentando Tabita viva aos seus amigos. (Veja Atos 9-40-41.)
Aceitou ameaças, açoitamentos e acusações falsas. Opôs-se aos que condenavam seu Senhor, dizendo: “Mais importa obedecer a Deus do que aos homens.” (Atos 5:29.) Culpou-os pela morte do Redentor, enfrentando-os sem medo algum. Castigou Simão, o feiticeiro, dizendo: “O teu dinheiro seja contigo para a perdição.” (Atos 8:20.) Anunciou, perante os irmãos, uma grande mudança no sistema da igreja, através da qual os gentios seriam aceitos.
Simão Pedro era espiritualizado e profético. Recebia revelações concernentes à igreja. Anjos o acompanharam ao cárcere e o libertaram, e uma grande visão abriu a porta para milhares de almas honestas.
Seu testemunho era como uma rocha, e sua fé, inabalável. O Salvador, ao ser abandonado pelos outros, perguntou a Pedro: “Quereis vós também retirar-vos?” (João 6:67.) E o apóstolo respondeu: “Senhor, para quem iremos nós? Tu tens as palavras da vida eterna.” (João 6:68.) Um pouco antes da crucificação, o Senhor perguntou: “E vós, quem dizeis que eu sou?” (Mateus 16:15.) A resposta, revelado por Deus, expressou perfeitamente o poder e caráter de Pedro: “Tu és o Cristo, o filho do Deus vivo.” (Mateus 16:16.) O Salvador respondeu: “Por que to não revelou a carne e o sangue, mas meu Pai, que está nos céus.” (Mateus 16:17.) Ele viu mensageiros celestiais; acompanhou os mártires e o Filho de Deus com quem vivera. Ele recebeu o Confortador, e nunca mais houve outra ocasião em que tivesse dúvidas ou vacilasse.

OS ENSINAMENTOS DE PEDRO
Os ensinamentos de Simão Pedro são dirigidos a todas as pessoas, até mesmo às que vivem na última geração. Ele testificou constantemente da divindade de Cristo. Assim como o Senhor perdoara suas fraquezas, da mesma forma ele concitou a todos os homens que perdoassem a seus ofensores. Ele ensinou os membros a serem honestos e instou-os a viver em paz com os gentios. Este apóstolo ensinou seu povo a prestar a devida honra aos reis, governos e leis; a suportar pacientemente as aflições, sofrimentos e agressões, e a sofrer todo o insulto ou padecimento como uma benção, por amor ao Senhor. Talvez ele tenha passado por muita infelicidade conjugal, pois aconselhou as esposas a se sujeitarem a seus maridos, e a procurar converte-los através de sua própria mansidão e bondade. E ordenou também aos maridos que honrassem suas esposas e companheiras, amassem-nas, fossem compassivos para com elas e as considerassem como um bem precioso. Solicitou aos pais que fossem bondosos para seus filhos e que estes honrassem e obedecessem aos pais. Instou os empregadores para que fossem honestos para com os seus trabalhadores e que os servos servissem fielmente a seus senhores. Pedro estimulou os santos a viverem uma vida construtiva, evitando a companhia de maus elementos, ébrios, dissolutos, glutões, idólatras e devassos. Instou-os também a servirem na igreja, viver sobriamente, a ser vigilantes na fé e a praticar obras que conduzissem à perfeição.
Esse grande líder testificou frequentemente como uma testemunha que vira e ouvira acontecimentos espetaculares e momentosos. Ao predizer a apostasia, testificou a respeito dos falsos mestres que surgiriam após a sua partida, os quais ensinariam as heresias de perdição, negariam o Senhor, e fariam das almas dos homens motivo de comércio. (ver 2 Pedro 2:1-3.) Ele colocou o selo divino de aprovação sobre os escritos do Velho Testamento e revelou as histórias do mundo, falando sobre o dilúvio, a destruição de Sodoma e Gomorra e outros eventos importantes. Pedro também pregou inúmeras vezes sobre a lei da pureza e castidade, denunciando publicamente os malefícios dos banquetes, adultérios, incontinência e da devassidão.
Ao aproximar-se o momento de seu martírio, quando beberia a taça amarga, como aconteceu a seu Senhor e Mestre, ele proclamou que o mundo conheceria seu testemunho e convicção. Sentado figurativamente à beira de seu túmulo, fez uma solene declaração que tem sido lido por milhões de pessoas. Ele orou para que os membros da igreja pudessem ter um “conhecimento de Deus, e de Jesus, nosso Senhor.” (2 Pedro 1:2), e gloriou-se nas “grandíssimas e preciosas promessas, para que por elas fiqueis participantes da natureza divina, havendo escapado da corrupção, que pela concupiscência há no mundo”. (2 Pedro 1:4.)
Pedro continuou:
”Portanto, irmãos, procurai fazer cada vez mais firme a vossa vocação e eleição...
“E tenho por justo, enquanto estiver neste tabernáculo, despertar-vos com admoestações.
“Sabendo que brevemente hei de deixar este meu tabernáculo, como também nosso Senhor Jesus Cristo já mo tem revelado.
“Mas também eu procurarei em toda a ocasião que, depois da minha morte, tenhais lembrança destas coisas.”
“Porque não vos fizemos saber a virtude e a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo, seguindo fábulas artificialmente compostas; mas nós mesmos vimos a sua majestade.
“Porquanto ele recebeu de Deus Pai, honra e glória, quando da magnífica glória lhe foi dirigida a seguinte voz: Este é o meu Filho amado, em quem me tenho comprazido.
“E ouvimos esta voz dirigida do céu, estando nós com ele no monte santo.” (2 Pedro 1:10, 13-18.)
Quando sua obra foi completada, seu testemunho prestado e entregue ao mundo; quando ele já vivera os dias que lhe haviam sido designados, Satanás, que há muito desejava abate-lo, teve permissão de leva-lo ao martírio. E até mesmo agonizante, ele prestou o seu testemunho.
Porém Simão Pedro não estava morto. Ele passou por transformações importantes - a dissolução de seu corpo e também a ressurreição de sua alma. Juntamente com seus leais companheiros, Tiago e João, Simão Pedro voltou novamente à terra e desfez a grande lacuna provocada pelos séculos negros da apostasia. Eles apareceram juntos às margens do rio Susquehanna, na Pennsylvania, onde Pedro entregou aos jovens profetas as chaves do reino, que os apóstolos possuíam desde o tempo de nosso Senhor Jesus Cristo.
O grande apóstolo ainda vive. As coisas fracas do mundo confundiram as sábias. Milhões de pessoas leram o seu poderoso testemunho, que tem emocionado as multidões. Ele continuará a viver através das incontáveis eras da eternidade, e estenderá sua influência sobre os filhos desta terra e, juntamente com seus irmãos, os Doze, julgará as nações.
Meus jovens irmãos e irmãs, espero que possam amar e aceitar o grande profeta assim como eu faço, de todo o meu coração. Em nome de Jesus Cristo. Amém. (Speeches of the Year [Provo, Utah: Brigham Young University Press, 1971], pp.1-8.)
ÉLDER SPENCER W. KIMBALL – O Novo Testamento - Apêndice D – pp. 540-545.















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