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(NÃO MEXER)

Bíblia - As Tentações De Cristo

Logo após seu batismo, imediatamente a seguir, como declara Marcos, Jesus foi impelido pela inspiração do Espírito a apartar-se dos homens e das distrações da vida em comunidade, retirando-se para o deserto, onde estaria livre para se comunicar com seu Deus. Tão vigorosa foi a influência daquela força compulsora, que ele foi levado ou, como dizem os evangelistas, impelido a uma reclusão solitária, na qual permaneceu por quarenta dias, “entre as feras” do deserto. Esse notável episódio da vida de nosso Senhor é descrito, embora não com a mesma amplitude, em três dos Evangelhos; (Mateus 4:1-11; Marcos 1:12,13; Lucas 4:1-13.) João silencia a respeito do assunto.
As circunstâncias que envolveram esses dias de exílio e provação devem ter sido relatadas pelo próprio Jesus, pois não houve qualquer outra testemunha humana. As narrativas registradas tratam principalmente dos fatos que marcaram o encerramento do período de quarenta dias, mas, consideradas em sua totalidade, deixam fora de dúvida o fato de que aqueles foram dias de jejum e oração. A compreensão de que era o Messias escolhido e preordenado chegou a Cristo gradualmente. Como o demonstram as palavras à sua mãe, por ocasião da memorável entrevista com os doutores no pátio do templo, ele sabia, quando apenas um garoto de doze anos, que, em um sentido particular e pessoal, ele era o Filho de Deus; entretanto, é evidente que a compreensão do significado pleno de sua missão terrena se desenvolveu em seu íntimo somente na medida em que aumentava, passo a passo, a sua sabedoria. Seu reconhecimento pelo Pai e a companhia permanente do Espírito Santo abriram-lhe a alma para o glorioso fato de sua divindade. Ele tinha muito em que pensar, muita coisa que exigia oração, e a comunhão de Deus, que somente a prece pode proporcionar. Durante todo o período de recolhimento, não comeu, mas decidiu jejuar, a fim de que o corpo mortal pudesse, mais completamente, sujeitar-se a seu espírito divino.
Então, quando estava faminto e fisicamente enfraquecido, o tentador apresentou-se-lhe com a insidiosa sugestão de que fizesse uso de seus poderes extraordinários para obter alimento. Satanás havia escolhido o momento mais propício para seu propósito maligno. Que não farão os mortais, a que ponto os homens não tem chegado, para aplacar os tormentos da fome? Esaú vendeu sua primogenitura por um prato de comida. Homens já lutaram como feras por causa de alimento. Mulheres têm trucidado e devorado seus próprios filhos, para aplacar o tormento da fome. De tudo isto tinha consciência Satanás, quando se apresentou a Cristo naquela hora de extrema necessidade física e lhe disse? “Se tu és o Filho de Deus, manda que estas pedras se tornem pães.” Durante as longas semanas de recolhimento, nosso Senhor fora sustentado pela exaltação do espírito que, naturalmente, acompanharia tão absorvente concentração mental com a que seu prolongado refletir e comunhão com os céus, sem dúvida alguma, produzira; em tão profunda devoção espiritual, os apetites corporais foram subjugados e superados; mas a reação da carne era inevitável.
Faminto como estava Jesus, encerravam as palavras de Satanás uma tentação ainda maior que a sugestão de que provesse alimento para seu corpo esfaimado – a tentação de pôr à prova a possível dúvida implicada na palavra “Se” do tentador. O Pai Eterno havia proclamado a Jesus como seu Filho; o demônio tentava fazer o Filho duvidar do parentesco divino. Por que não provar o interesse do Pai por seu Filho, neste momento de extrema necessidade? Seria próprio que o Filho de Deus padecesse fome? Teria o Pai tão depressa se esquecido dele, a ponto de permitir que seu Filho Amado assim sofresse? Não seria razoável que Jesus, debilitado pela longa abstinência, provasse para si mesmo, particularmente quando isto lhe era facultado, por meio de uma simples ordem, se a voz ouvida em seu batismo havia sido realmente a do Pai Eterno? Se em verdade tu és o Filho de Deus, demonstra teu poder e ao mesmo tempo satisfaze tua fome – eis o sentido da diabólica sugestão. Consentir teria significado manifestar dúvida positiva sobre a proclamação do Pai.
E, mais que isto, o poder superior que Jesus possuía não lhe tinha sido dado para satisfação pessoal, mas para serviço ao próximo. Ele deveria experimentar todas as provações da mortalidade; outro homem, tão faminto quanto ele, não poderia prover para si miraculosamente; e mesmo que por milagre tal pessoa fosse alimentada, a provisão miraculosa teria que lhe ser dada, não obtida por si própria. Era uma consequência necessária da natureza dupla de nosso Senhor, que abrangia os atributos tanto de Deus quanto do homem, que ele devesse suportar e sofrer como um mortal, embora possuísse, durante todo o tempo, a capacidade de invocar o poder de sua própria divindade, pelo qual todas as necessidades corporais poderiam ser supridas ou sobrepujadas. Sua réplica ao tentador foi sublime, e positivamente conclusiva: “Está escrito: Nem só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus.” (Mateus 4:4; Comparar Deuteronômio 8:3.) A palavra proveniente da boca de Deus, sobre a qual Satanás pretendia lançar dúvida, fora a de que Jesus era o Filho Amado em quem o Pai se comprazia. O demônio havia sido derrotado; Cristo triunfara.
Compreendendo que havia fracassado totalmente na tentativa de induzir Jesus a empregar, em benefício pessoal, o poder que lhe era inerente, confiando em si próprio, ao invés de contar com a providência do Pai, Satanás passou ao outro extremo, tentando induzir Jesus a atirar-se caprichosamente à proteção do Pai. (Nota 4, no final do capítulo.) Jesus achava-se em um dos lugares altos do templo, num pináculo ou parapeito que dava para os espaçosos pátios, quando o demônio lhe disse: “Se tu és o Filho de Deus, lança-te de aqui abaixo; porque está escrito: Que aos seus anjos dará ordens a teu respeito: e tomar-te-ão nas mãos, para que nunca tropeces em alguma pedra.” Novamente a implicação da dúvida. (Nota 5, no final do capítulo. Ver também, capítulo XXXV 6ª parágrafo do tópico: A Crucificação.) Se Jesus era de fato o Filho de Deus, não poderia confiar em que seu Pai o salvasse, particularmente estando escrito (Mateus 4:6; Salmos 91:11,12.) que anjos o guardariam e susteriam? A réplica de Cristo ao tentador, no deserto, incluíra a citação de uma Escritura, que ele introduzira com a expressiva fórmula comum aos expositores da Sagrada Escritura – “Está escrito.” Na segunda tentativa, o demônio procurou apoiar sua gestão nas escrituras e empregou expressão semelhante – “pois está escrito.” Nosso Senhor refutou e retrucou à citação diabólica com uma outra, dizendo: “Também está escrito: Não tentarás o Senhor teu Deus.” (Mateus 4:5-7; comparar Deuteronômio 6:16.)
Além da provocação para que pecasse desafiando o perigo por capricho, para que o amor do pai pudesse manifestar-se num salvamento miraculoso, ou, através da recusa em pôr à prova a interferência do Pai, revelar dúvida quanto a sua posição como o Filho Amado, ocultava-se ali um apelo ao lado humano da natureza de Cristo, sob a forma da fama que tão extraordinária façanha, qual seja a de projetar-se das alturas estonteantes do pináculo do templo, pousando ileso, certamente lhe traria. Não podemos resistir ao pensamento, apesar de não sermos justificados em dizer que tal ideia tenha nem momentaneamente encontrado eco no Salvador, de que o agir conforme a sugestão de Satanás, convindo-se naturalmente em que o resultado fosse o previsto por ele, teria assegurado o reconhecimento público de Jesus como um Ser superior aos mortais. Teria sido verdadeiramente um sinal e um assombro, cuja fama se alastraria como o fogo na grama seca; e toda a comunidade judaica se inflaria de entusiasmo e interesse pelo Cristo.
A fulgurante sofística da citação de Satanás não era digna de uma resposta categórica; sua doutrina não merecia lógica nem raciocínio; a falseada aplicação da palavra escrita anulava-se com uma escritura adequada; as linhas do salmista foram confrontadas com o comando categórico do profeta do Êxodo, no qual ordenara a Israel que não provocasse nem tentasse o Senhor a obrar milagres entre eles. Satanás quis induzir Jesus a tentar o Pai. É tão blasfema a tentativa de interferência com as prerrogativas da Divindade, estabelecendo limitações ou fixando tempo ou local em que o divino poder deve fazer-se manifesto, quanto o é tentar usurpar aquele poder. Deus, e só Deus deve decidir quando e como suas maravilhas serão operadas. Ainda uma vez, os propósitos de Satanás foram frustrados e Cristo novamente venceu.
Na terceira tentação, o demônio absteve-se de outro apelo para que Jesus pusesse à prova seus próprios poderes ou os do Pai. Duas vezes derrotado, o tentador deixou de lado aquele plano de ataque; e, abandonando qualquer tentativa de disfarçar seus propósitos, fez-lhe uma proposta explícita. Do topo de uma montanha elevada, Jesus visualizava a terra, com suas riquezas em cidades e campos, as vinhas e os pomares, os rebanhos e as manadas; e em visão, contemplou os reinos do mundo, com suas riquezas, esplendor e glória terrena. Disse-lhe, então, Satanás: “Tudo isto te darei se, prostrado, me adorares.” Assim escreveu Mateus; a versão de Lucas, mais extensa, é a seguinte: “E disse-lhe o diabo: Dar-te-ei a ti todo este poder e a sua glória; porque a mim me foi entregue, e dou-o a quem quero. Portanto, se tu me adorares, tudo será teu.” Não devemos preocupar-nos com conjeturas quanto a se Satanás teria cumprido sua promessa no caso de Cristo render-lhe homenagem; certo é que Cristo poderia ter estendido as mãos e recolhido as riquezas e a glória do mundo, se desejasse fazê-lo, fracassando, assim, em sua missão messiânica. Isto Satanás compreendia plenamente. Muitos homens têm-se vendido ao diabo por um reino e por muito menos, sim, até mesmo por uns míseros centavos.
A insolência de sua oferta era em si própria diabólica. Cristo, o Criador do céu e da terra, revestido como então estava de um corpo mortal, poderia não se ter recordado de seu estado pré-existente ou do papel que desempenhara no grande Conselho dos Deuses, (Leiam-se os primeiros parágrafos do capítulo 2 deste livro, para comparação.) enquanto Satanás, espírito sem tabernáculo, - o deserdado, o filho rebelde rejeitado – procurando tentar o Ser através do qual o mundo fora criado, com a promessa de dar-lhe parte do que era inteiramente seu, ainda podia ter, e na verdade pode ainda ter uma lembrança daquelas cenas primevas. Naquele passado distante, antedatando a criação da terra, Satanás, então Lúcifer, uma filho da alva, havia sido rejeitado; e o Primogênito fora escolhido. Agora que o Escolhido estava sujeito às provações da mortalidade, Satanás tentava frustrar o propósito divino, dominando o Filho de Deus. Ele, que havia sido derrotado por Miguel e suas hostes, e expulso como um rebelde vencido, pedia ao Jeová corporificado que o adorasse. “Então lhe disse Jesus: Vai-te, Satanás, porque está escrito: Ao Senhor teu Deus adorarás, e só a ele servirás. Então o diabo o deixou; e eis que chegaram os anjos, e o serviram.” (Mateus 4:10,11; Êxodo 20:3; Deuteronômio 6:13; 10:20; Josué 24:14; I Samuel 7:3.)
Não se deve supor que, por ter Cristo emergido vitorioso das nuvens negras dessas três tentações específicas, ficasse isento de assaltos posteriores da parte de Satanás ou que isso o garantisse contra futuras provas de fé, confiança e perseverança. Lucas assim encerra seu relato das tentações que se seguiram aos quarenta dias de jejum: “E, acabando o diabo toda a tentação, ausentou-se dele por algum tempo.” (Lucas 4:13.) Esta vitória sobre o demônio e seus estratagemas, este triunfo sobre os desejos da carne, sobre as dúvidas inquietantes da mente, sobre a sugestão de buscar fama e riquezas materiais foram êxitos importantes, mas não conclusivos, na luta entre Jesus, o Deus feito homem, e Satanás, o anjo de luz  caído. Que estava sujeito a tentações durante o período de sua associação com os apóstolos, Cristo o manifestou expressamente. (Lucas 22:28.) Que suas tentações se estenderam até a agonia em Getsêmani, será verificado no prosseguir deste estudo. Não nos é dado, nem foi dado a Jesus, fazer frente ao inimigo, combatê-lo e sobrepujá-lo num único encontro e para sempre. O conflito entre o espírito imortal e a carne, entre a semente de Deus de um lado, o mundo, e Satanás do outro, persiste por toda a vida.
Poucos eventos na história evangélica de Jesus de Nazaré deram ensejo as mais polêmicas, fantásticas teorias e hipóteses estéreis que as tentações. Todas essas conjeturas podemos ignorar. Para qualquer pessoa que creia nas Escrituras sagradas, o relato das tentações aí registrado é suficientemente explícito para que se ponham além de qualquer dúvida ou questão os fatos essenciais; ao descrente não impressionam nem o Cristo nem seu triunfo. De que nos valeira especular quanto a se Satanás apareceu a Jesus em forma visível ou esteve presente apenas como espírito invisível; se lhe falou em voz audível ou fez surgir na mente de sua vítima os pensamentos depois expressos pelas linhas escritas; se as três tentações ocorreram em sequencia imediata ou foram experimentadas a longos intervalos? Podemos, com segurança, refutar toda a teoria de mitos ou parábolas no relato das Escrituras e aceitar o registro como se apresenta; e com igual firmeza acreditamos que as tentações foram reais e que as provações a que o Senhor foi submetido constituíram um teste verdadeiro e crucial. Para se crer de outra forma, é necessário considerarem-se as Escrituras mera ficção.
Uma questão que merece ser abordada, com relação a este ponto, é a da possibilidade ou não de Cristo cometer pecado – a questão sobre se era capaz de pecar. Não houvesse possibilidade de ele ceder às seduções de Satanás, também não teria havido prova real, nem vitória genuína no resultado. Nosso Senhor foi sem pecado, ainda que pecável; tinha a capacidade, a condição de pecar, se desejasse fazê-lo. Fosse privado da capacidade de pecar e teria sido despojado de seu livre arbítrio; e para salvaguardar e assegurar o arbítrio do homem é que ele se ofereceu, antes que o mundo existisse, como sacrifício redentor. Dizer que ele não podia pecar, porque era o protótipo da retidão, não é negar seu livre arbítrio para escolher entre o bem e o mal. Um homem absolutamente sincero não pode mentir culposamente; contudo, sua garantia contra a falsidade não é a de uma compulsão externa, mas sim o refreamento interno devido a seu cultivado companheirismo com o espírito da verdade. Um homem realmente honesto não tomará, nem cobiçará os bens de seu próximo. Pode-se, na verdade, dizer que ele não consegue roubar; no entanto, ele é capaz de fazê-lo, se se resolver a tal. Sua honestidade é uma armadura contra a tentação; mas a cota de malha, o elmo, a couraça e as grevas não são mais que uma cobertura externa; o homem que neles se abriga pode ser vulnerável, se houver maneira de ser atingido.
Mas, por que prosseguir com um raciocínio elaborado, que não pode levar senão a uma conclusão, quando as próprias palavras de nosso Senhor e outras Escrituras confirma o fato? Pouco antes da traição, quando admoestava os Doze para que fossem humildes, ele disse: “E vós sois os que tendes permanecido comigo nas minhas tentações.” (Lucas 22:28.) Ainda que não encontremos aqui referência exclusiva às tentações que imediatamente se seguiram a seu batismo, a indicação é óbvia de que ele tinha suportado tentações e, por dedução, que elas teriam continuado através do período de seu ministério. O autor da epístola aos hebreus ensinou expressamente que Cristo poderia pecar, posto que “em tudo foi tentado”, como o resto da humanidade. Considere esta declaração explícita: “Visto que temos um grande sumo sacerdote, Jesus, Filho de Deus, que penetrou nos céus, retenhamos firmemente a nossa confissão. Porque não temos um sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas; porém, um que, como nós, em tudo foi tentado, mas sem pecado.” (Hebreus 4:14,15).
JAMES E. TALMAGE – Jesus, O Cristo, Capítulo X, pp. 123-130.

4. A Ordem em que as Tentações foram Apresentadas. – Apenas dois evangelistas especificam as tentações a que Cristo foi submetido imediatamente após seu batismo; Marcos menciona apenas o fato de que Jesus foi tentado. Mateus e Lucas colocam em primeiro lugar a tentação de que Jesus provesse alimento para si, criando pão milagrosamente; a sequência das demais provações não é a mesma nos dois registros. A ordem seguida neste texto é a de Mateus.
5. O “Se” de Satanás. – Note-se o escárnio diabólico com que o “se” foi empregado, quando Cristo pendia da cruz. Os príncipes dos judeus, escarnecendo de Jesus crucificado, em sua agonia, disseram: “Salve-se a si mesmo, se este é o Cristo.” E o soldado, lendo a inscrição à cabeça da cruz, mofou do Deus agonizante, dizendo: “Se tu és o Rei dos Judeus salva-te a ti mesmo.” E, mais tarde, o malfeitor impenitente a seu lado, gritava: “Se tu és o Cristo, salva-te a ti mesmo, e a nós.” (Lucas 23:35-39.) Quão literalmente aqueles escarnecedores e vilipendiadores citaram as próprias palavras do demônio! (ver João 8:44). Veja-se ainda página 658, deste.
JAMES E. TALMAGE – Jesus, O Cristo, Notas do Capítulo X - 4 e 5, pp. 132.

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