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(NÃO MEXER)

João Batista - O Precursor - NT

João, o Precursor - Relacionadas às profecias sobre o nascimento de Cristo, encontramos predições concernentes a um que haveria de precedê-lo, preparando o seu caminho. Não é de surpreender que a anunciação do advento imediato do precursor tenha sido rapidamente seguida pela do Messias; nem que as proclamações tenham sido feitas pelo mesmo embaixador celestial – Gabriel, enviado da presença de Deus. (Lucas 1:19, 26; Daniel 8:16; 9:21-23).
Cerca de quinze meses antes do nascimento do Salvador, Zacarias, sacerdote da ordem Aarônica, estava oficiando em suas funções no templo em Jerusalém. Sua esposa, Isabel, era também de família sacerdotal, pertencendo à descendência de Aarão. O casal não havia sido abençoado com filhos, e na época a que nos referimos, estavam idosos, tendo perdido, com tristeza, a esperança de posteridade. Zacarias pertencia ao turno sacerdotal de Abias. Esta era a oitava entre as vinte e quatro ordens estabelecidas pelo rei Davi, as quais se revezavam cada semana para servir no santuário. Quando o povo retornou da Babilônia, apenas quatro desses turnos estavam representados, cada um com uma média de mais de mil e quatrocentos homens. (Lucas 1:5; comparar com I Crônicas 24:10).
Durante sua semana de serviço, era requerido de cada sacerdote que mantivesse escrupulosa pureza cerimonial. Ele tinha que se abster de vinho e alimentos, exceto os especialmente prescritos; tinha que banhar-se frequentemente. Permanecia dentro dos recintos do templo, ficando, portanto, privado da associação familiar. Não lhe era permitido aproximar-se dos mortos, nem prantear, segundo o costume estabelecido, se a morte lhe roubasse mesmo um de seus entes mais próximos e queridos. A seleção diária do sacerdote que devia entrar no Lugar Santo e queimar incenso no altar de ouro, era determinada por sorte, e por fontes históricas, não escriturísticas, sabemos também que, em virtude do grande número de sacerdotes, a honra de assim oficiar raramente cabia duas vezes à mesma pessoa.
Neste dia, a sorte caíra sobre Zacarias. Era uma ocasião muito solene na vida do humilde sacerdote judeu – este único dia de sua vida em que lhe era requerido o serviço especial e particularmente sagrado. Dentro do Lugar Santo, ele ficava separado apenas pelo véu do templo do Oráculo ou Lugar Santíssimo – o santuário interior no qual ninguém, senão o sumo sacerdote, podia entrar, e este apenas no dia da Expiação, depois de uma longa preparação cerimonial. (Levítico 16; Hebreus 9:1-7; ver também “A Casa do Senhor”, p. 59 e comparar com p. 24 a 39. Ver nota no final deste capítulo). O lugar e a ocasião provocavam os sentimentos mais nobres e reverentes. Ao ministrar Zacarias no Lugar Santo, o povo fora curvou-se em oração, esperando que aparecessem as nuvens da fumaça do incenso sobre a grande divisão que formava a barreira entre o lugar de assembleia geral e o Lugar Santo, e esperando a reaparição do sacerdote e o pronunciamento de sua bênção.
Neste momento supremo de seu serviço sacerdotal, apareceu ante os olhos assombrados de Zacarias, à direita do altar do incenso, um anjo do Senhor. Haviam passado muitas gerações entre os judeus, desde que se manifestara, dentro do templo, uma presença visível não humana, tanto no Lugar Santo como no Santíssimo; o povo considerava as visitações pessoais de seres celestiais como ocorrências no passado; haviam chegado quase a crer que não havia mais profetas em Israel.
Não obstante, havia sempre um sentimento de ansiedade, semelhante a uma expectativa preocupada, cada vez que um sacerdote se aproximava do santuário interior, que era considerado a morada particular de Jeová, na esperança de que ele condescendesse em visitar seu povo. Em vista destas condições, lemos sem surpresa que esta presença angélica perturbou Zacarias e causou-lhe medo.
As palavras do visitante celestial, entretanto, foram confortadoras, e de importância surpreendente, apresentando a indiscutível afirmação de que suas orações tinham sido ouvidas, pois sua esposa geraria um filho, que deveria ser chamado João. (Ler nota 1 no final do capítulo 4 – Para outros exemplos de crianças prometidas a despeito de esterilidade devida à idade ou outras causas, ver também Isaque (Gênesis 17:16, 17 e 21:1-3); Sansão (Juízes, capítulo 13); Samuel (1 Samuel 1); filho da sunamita (2 Reis 4:14, 17). A promessa foi ainda mais longe, especificando que a criança nascida de Isabel seria uma bênção para o povo; muitos se regozijariam com seu nascimento; ele seria grande aos olhos do Senhor e não deveria beber vinho nem bebidas fortes; (Ver nota 1 no final do capítulo); seria cheio do Espírito Santo; através dele, muitas almas se voltariam para Deus, e precederia o Messias, preparando o povo para recebê-lo.
Zacarias, indubitavelmente, reconheceu, na predição do futuro da criança anunciada, o grande precursor sobre o qual haviam falado os profetas e cantado os salmistas; mas que tal criatura fosse seu filho e de sua esposa já idosa, parecia-lhe impossível, a despeito da promessa do anjo. O homem duvidou e perguntou de que maneira poderia certificar-se da veracidade do que lhe estava dizendo o anjo: “Respondeu-lhe o anjo: Eu sou Gabriel, que assisto diante de Deus e fui enviado para falar-te e dar-te estas alegres novas; E eis que, ficarás mudo, e não poderás falar até ao dia em que estas coisas aconteçam; porquanto não creste nas minhas palavras, que a seu tempo se hão de cumprir”. (Lucas 1:19, 20). Quando o sacerdote grandemente abençoado, mas extremamente perturbado, finalmente saiu e se apresentou diante da congregação, que esperava ansiosa em virtude de sua demora, não pode senão despedir sem palavras a assembléia e, através de sinais, indicar que havia tido uma visão. O castigo pela dúvida já se manifestava: Zacarias estava mudo.
No devido tempo, nasceu a criança, no interior montanhoso da Judéia (Lucas 1:57; comparar verso 39), onde Zacarias e Isabel tinham o seu lar; e, no oitavo dia depois do nascimento, a família se reuniu de acordo com o costume e requisito mosaicos, para dar nome à criança, juntamente com o ritual da circuncisão (Nota 2, no final do capítulo). Zacarias ignorou todas as sugestões de que a criança recebesse o nome do pai, e escreveu de maneira decisiva e final: “Seu nome é João”. Nesse momento, soltou-se a língua do sacerdote mudo (Nota 3, no final do capítulo) e, estando cheio do Espírito Santo, prorrompeu em profecia, louvor e canto; suas afirmações inspiradoras foram adaptadas à música e são cantadas em culto por muitas congregações cristãs como o Benedictus:
“Bendito o Senhor Deus d’Israel, porque visitou e remiu o seu povo. E nos levantou uma salvação poderosa na casa de Davi seu servo. Como falou pela boca dos seus santos profetas desde o princípio do mundo; para nos livrar dos nossos inimigos e da mão de todos os que nos aborrecem; para manifestar misericórdia a nossos pais, e lembrar-se do seu santo concerto, e do juramento que jurou a Abraão nosso pai, de conceder-nos que, libertados da mão de nossos inimigos, o serviríamos sem temor, em santidade e justiça perante ele, todos os dias da nossa vida. E tu ó menino, serás chamado profeta do Altíssimo, porque hás de ir ante a face do Senhor, a preparar os seus caminhos; para dar ao seu povo conhecimento da salvação, na remissão dos seus pecados, pelas entranhas da misericórdia do nosso Deus, com que o Oriente do alto nos visitou; para alumiar aos que estão assentados em trevas e sombra de morte; a fim de dirigir os nossos pés pelo caminho da paz.” (Lucas 1:68-79).
As últimas palavras pronunciadas por Zacarias, antes de ser atingido pela mudez, haviam sido de dúvida e descrença, palavras nas quais pedira um sinal como prova de autoridade de alguém que viera da presença do Todo-Poderoso; as palavras com as quais quebrou seu longo silencio foram de louvor a Deus, em quem tinha toda confiança, palavras que foram como sinal para todos os que as ouviram, e sua fama espalhou-se por toda a região.
As circunstâncias incomuns do nascimento de João, notadamente os meses de mudez por que passou seu pai, e a repentina recuperação de sua fala, quando indicava o nome pré-designado para seu filho, fizeram com que muitos se maravilhassem e outros se enchessem de temor, perguntando: “Quem será pois este menino?” Quando homem, João ergueu sua voz no deserto, novamente em cumprimento da profecia, fazendo com que o povo perguntasse se ele não era o Messias. (Lucas 1:65, 66; ver também 3:15). O único registro que temos de sua vida entre a infância e o início de seu ministério público, período esse de aproximadamente trinta anos, é a seguinte sentença: “E o menino crescia, e se robustecia em espírito. E esteve nos desertos até ao dia em que havia de mostrar-se a Israel.” (Lucas 1:80).
ÉLDER JAMES E. TALMAGE – Do Quórum dos Doze Apóstolos – Jesus, O Cristo, Capítulo VII, pp.72-76.

A Voz no Deserto da Judéia – Numa época claramente indicada como o 15º ano do reinado do Tibério César, imperador de Roma, o povo da Judéia foi fortemente agitado pela estranha pregação de um homem até então desconhecido. Era ele de descendência sacerdotal, mas não havia sido instruído nas escolas; e, sem autorização dos rabis ou licença dos principais sacerdotes, declarou-se enviado de Deus com uma mensagem para Israel. Não aparecia nas sinagogas nem nos pátios do templo, onde ensinavam os escribas e os doutores, mas clamava no deserto. O povo de Jerusalém e das zonas rurais adjacentes acorreu em grandes multidões para ouvi-lo. Ele desdenhava as vestes macias e os mantos confortáveis e elegantes, pregando em sua rude indumentária do deserto – um traje de pelo de camelo amarrado por um cinto de couro. A rudeza de seus trajes era considerada significativa. Elias, o tesbita, aquele profeta destemido cujo lar havia sido o deserto, era conhecido em seus dias como “um homem vestido de pelos, e com os lombos cingidos dum cinto de couro” (2 Reis 1:8.), e vestimentas rústicas vieram a ser consideradas como características dos profetas. (Nota 1, no fim do capítulo.) Tampouco comia esse estranho pregador os pratos do luxo e da fartura, mas alimentava-se daquilo que o deserto lhe supria: gafanhotos e mel silvestre. (Mateus 3:1-5; comparar com Levítico 11:22; ver também Marcos 1:1-8. Nota 2, no final do capítulo.)
O homem era João, filho de Zacarias, que seria logo conhecido como João Batista. Havia passado muitos anos no deserto, afastado do convívio dos homens, preparando-se para sua especial missão. Estudara sob a tutela de mestres divinos; e lá, no deserto da Judéia, chegara a ele a palavra do Senhor, (Lucas 3:2.) como em cenário semelhante chegara a Moisés (Êxodo 3:1,2.) e a Elias (I Reis 17:2-7.). Fez-se então ouvir a “voz do que clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas.” (Marcos 1:3.) Era a voz do arauto, o mensageiro que, como haviam dito os profetas, precederia o Senhor para preparar-lhe o caminho. (Marcos 1:2; comparar com Isaías 40:3; Malaquias 3:1; Mateus 11:10; Lucas 7:27.) O tema principal de sua mensagem era: “Arrependei-vos, pois o reino dos céus está às portas.” E aqueles que tinham fé em suas palavras e professavam o arrependimento, ele administrava o batismo por imersão na água, proclamando ao fazê-lo: “Eu, em verdade, vos batizo com água, para o arrependimento; mas aquele que vem após mim é mais poderoso do que eu; cujas alparcas não sou digno de levar; ele vos batizará com o Espírito Santo, e com fogo.” (Mateus 3:11.)
Nem o homem, nem sua mensagem podiam ser ignorados; sua pregação continha promessas específicas à alma arrependida, e denúncias acerbas ao hipócrita e ao pecador empedernido. Quando fariseus e saduceus vieram a seu batismo, tagarelando a respeito da lei, cujo espírito não cessavam de transgredir, e dos profetas, a quem desonravam, ele os denunciou como geração de víboras e perguntou-lhes: “Quem vos ensinou a fugir da ira futura?” Repeliu a sua tão repetida jactância de que eram filhos de Abraão, dizendo: “Produzi pois frutos dignos de arrependimento. E não presumais, de vós mesmos, dizendo: Temos por pai a Abraão; porque eu vos digo que mesmo destas pedras Deus pode suscitar filhos a Abraão.” (Mateus 3:7-10; ver também Lucas 3:3-9.) Ignorar as suas reivindicações de primazia por serem filhos de Abraão, indicava forte censura e grave afronta, tanto aos aristocráticos saduceus quanto aos fariseus aferrados à lei. O judaísmo asseverava que a posteridade de Abraão possuía lugar garantido no reino do esperado Messias e que nenhum prosélito dentre os gentios teria a possibilidade de alcançar o posto e a  honra que eram assegurados aos “filhos”. Sua asserção vigora de que Deus, das próprias pedras da margem do rio, poderia suscitar filhos a Abraão, significou para os que o ouviram, que mesmo o mais humilde dentre a família humana poderia ser preferido a eles, a menos que se arrependessem e se regenerassem. (Compare-se com o exemplo posterior, no qual Cristo ensina de maneira semelhante – João 8:33-59.) O tempo de professar sua fé com palavras havia passado; frutos eram exigidos, não estéril profusão de folhas; o machado estava posto à raiz da árvore, e toda a arvore que não produzisse bom fruto seria abatida e atirada ao fogo.
O povo estava assombrado; e muitos, enxergando-se em sua verdadeira condição de negligência e pecado, quando João, com palavras candentes, desnudava suas faltas, clamavam: “Que faremos pois?” (Lucas 3:10; comparar Atos 2:37;) Sua réplica dirigiu-se contra o cerimonialismo que havia feito a espiritualidade definhar, e quase morrer, no coração do povo. Caridade abnegada foi exigida: “Quem tiver duas túnicas, reparta com o que não tem, e quem tiver alimentos faça da mesma maneira.” Os publicanos ou cobradores de impostos, sob cujas injustas e ilícitas exigências o povo sofria havia tanto tempo, perguntaram-lhe: “Mestre, que devemos fazer? E ele lhes disse: Não peçais mais do que o que vos está ordenado.” Aos soldados que lhe perguntaram o que fazer, ele replicou: “A ninguém trateis mal nem defraudeis, e contentai-vos com o vosso soldo” (Lucas 3:10-15.)
A essência de seus preceitos foi a de uma religião prática, a única religião que encerra algum valor – a religião de uma vida reta. Com todo o seu vigor, a despeito de sua brusquidão, de seus poderosos ataques aos costumes degenerados da época, este João não era um agitador contra as instituições estabelecidas, instigador de desordens, advogado de revoltas ou fomentador de rebelião. Não atacou o sistema de impostos, mas as extorsões dos avaros e corruptos publicanos; não detratou o exército, mas as iniquidades dos soldados, muitos dos quais haviam tirado partido de sua posição para prestar falso testemunho visando ganho, e confiscando riquezas pela força. Ele pregou o que, na atual dispensação, denominamos os primeiros princípios fundamentais do evangelho – “Princípio do evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus; (Marcos 1:1) abrangendo fé, que é crença vivificante me Deus; arrependimento genuíno, que compreende contrição pelas ofensas passadas e resoluta determinação de afastar-se do pecado; batismo por imersão na água, sob suas mãos, como as mãos de alguém que possuía autoridade; e o batismo maior pelo fogo, ou a outorga do Espírito Santo através de uma autoridade superior à possuída por ele próprio. Sua pregação foi positiva e, em muitos aspectos, oposta às convenções da época; não atraiu o povo por meio de manifestações miraculosas (João 10:41) e, embora muitos de seus ouvintes se ligassem a ele como discípulos, (João 1:35,37; Mateus 11:2; Lucas 7:18) não estabeleceu nenhuma organização formal, nem procurou fundar um culto. Sua exigência de arrependimento era um chamado individual, pois a todo solicitante aceitável administrou individualmente o rito do batismo.
Para os judeus, que viviam em estado de expectativa, aguardando o tão profetizado Messias, as palavras desse estranho profeta no deserto estavam carregadas de profundos presságios. Seria ele o Cristo? João falou-lhes de um aguardado para breve, mais poderoso que ele próprio, cujas alparcas não era digno de desatar, (Nota 3, no final do capítulo) um que haveria de separar o povo como o debulhador que, empunhando a pá, separa a palha do trigo; e acrescentou que Aquele mais poderoso “ajuntará o trigo n seu celeiro, mas queimará a palha com fogo que nunca se apaga.” (Lucas 3:17; ver também Mateus 3:12; comparar com Malaquias 3:2.)
Desta maneira transmitiu o profetizado arauto do Senhor a sua mensagem. A si próprio não exaltava; seu ofício, contudo, era sagrado para ele, e em suas funções não permitia a interferência de sacerdotes, levitas ou rabis. Não fazia acepção de pessoas; ao pecado denunciava, aos pecadores repreendia, trajassem túnicas sacerdotais, vestes campesinas ou mantos reais. Todas as alegações que João Batista havia feito a respeito de si mesmo e da sua missão foram posteriormente confirmadas e defendidas pelo testemunho específico de Cristo. (Mateus 11:11-14; 17:12; Lucas 7:24-30.) João foi o precursor não apenas do reino, mas do Rei; e a ele veio o próprio Rei em pessoa.
JAMES E. TALMAGE – Jesus, O Cristo, Capítulo X, pp.117-121.

1. Traje de Pelo de Camelo. – Através do profeta Zacarias (13:4), foi predita uma era em que os que se declaravam profetas não mais “se vestiriam de pelos, para mentirem.” A respeito do manto de pelo de camelo usado por João Batista, o comentário de Oxford e outras notas marginais consideram a expressão “uma veste de pelo” como mais literal que o texto bíblico. Deems (Light of the Nations, p. 74, nota) afirma: “O traje de pelo de camelo não era o couro do cabelo com os pelos, o que seria  muito pesado para se usar, mas um traje tecido de pelo de camelo, como o que Josefo menciona (B. J., i, 24:3).”
JAMES E. TALMAGE – Jesus, O Cristo, Notas do Capítulo X, p.131.

2. Gafanhotos e Mel Silvestre. – Insetos do tipo do gafanhoto eram especificamente declarados limpos e adequados para a alimentação na lei dada a Israel no deserto. “Mas isto comereis; de todo o réptil que voa, que anda sobre quatro pés; o que tiver pernas sobre os seus pés, para saltar com elas sobre a terra. Deles comereis estes: o gafanhoto segundo a sua espécie, e o solhão segundo a sua espécie, e o hargol segundo a sua espécie, e o hagabe segundo a sua espécie.” (Levítico 11:21,22.) Em nossos dias, os gafanhotos são utilizados como alimento por muitos povos orientais, embora o sejam  principalmente pelas classes pobres. Da passagem referente aos gafanhotos como parte da alimentação de João Batista, enquanto vivia em reclusão no deserto, diz Farrar (Life of Christ, p. 97). nota): “A suposição de que se refere às vagens da assim chamada árvore gafanhoto (alfarrobeira) é um engano. Gafanhotos são vendidos como artigo de alimentação nas lojas de gêneros em Medina; eles são mergulhados em água fervente e sal e secados ao sol, sendo comidos com manteiga, mas apenas pelos mendigos mais pobres. (Geikie (Life and Words of Christ, volume i, pp, 354, 355) refere-se ao seguinte, como sendo aplicável à vida de João Batista: “Seu único alimento eram os gafanhotos que saltavam e voavam nos montes e o mel das abelhas silvestres que encontrava, aqui e ali, nas fendas das rochas, sendo a única bebida que tomava a água encontrada nas cavidades rochosas. Gafanhotos são ainda o alimento dos pobres em muitas regiões do Leste. ‘Todos os beduínos da Arábia e os habitantes das cidades de Nedj e Hedjaz estão acostumados, a comê-los’, diz Burckhardt. ‘Já vi em Medina e Tayf lojas de gafanhotos, onde são vendidos por peso. No Egito e na Núbia, são usados apenas pelos mendigos mais pobres. Os árabes, preparando-os para comer, atiram-nos vivos em água fervente, na qual dissolveram uma boa quantidade de sal, retirando-os após alguns minutos e secando-os ao sol. A cabeça, os pés e as asas são então arrancados, limpa-se o sal do corpo, secando-os perfeitamente. Comem-se por vezes cozidos em manteiga ou passados em pão não levedado, misturado com manteiga.’ Na Palestina, são comidos apenas pelos árabes das fronteiras mais distantes; em outras partes, são considerados com asco e repugnância e apenas os mais pobres os usam. Tristam, contudo, fala deles como ‘muito saborosos’. ‘Achei-os muito bons’, diz ele, ‘quando comidos à maneira árabe, cozidos com manteiga. Sabiam um pouco a camarão, mas de gosto menos forte.’ No deserto da Judéia, vários tipos abundam em todas as estações e alçam vôo com um ruído semelhante ao tamborilar, a cada passo, abrindo subitamente as asas de cores brilhantes: escarlate, roxo, azul, amarelo, branco, verde ou marrom, de acordo com sua espécie. Eram “limpos’” sob a Lei de Mosaica e João podia, portanto, comê-los sem transgredir.”
A respeito da menção de mel silvestre como alimento usado por João, o último autor citado diz, em continuação ao mesmo parágrafo: “As abelhas silvestres na Palestina são muito mais numerosas que as das colmeias e a maior parte do mel vendido nas zonas meridionais é obtido em enxames silvestres. Poucos países, na verdade, estão melhor adaptados para as abelhas. O clima seco e a flora rasteira, mas variada, consistindo grandemente de tomilhos aromáticos, hortelã e outras plantas similares, com açafrão na primavera, são muito favoráveis a elas, enquanto os recessos secos das rochas calcárias, por toda a parte, lhes fornecem abrigo e proteção para seus favos. No deserto da Judéia, as abelhas são muito mais numerosas que em outras partes da Palestina e é, atualmente, parte da dieta diária dos beduínos o mel que extraem dos favos e armazenam em couros.”
JAMES E. TALMAGE – Jesus O Cristo, Notas do Capítulo X, pp.131-132.

3. A Inferioridade de João ante o Mais Poderoso que ele Proclamava. – “Vem aquele que é mais poderoso do que eu, a quem eu não sou digno de desatar a correia das alparcas;” (Lucas 3:16), ou “cujas alparcas não sou digno de levar” (Mateus 3:11); esta foi a forma pela qual João Batista declarou sua inferioridade ante o Mais Poderoso que deveria sucedê-lo e suplantá-lo; e melhor ilustração seria difícil de se conceber. Desatar a correia do sapato ou sandália ou carregar os  sapatos de alguém “era um encargo servil implicando em grande inferioridade da parte de quem o realizava.” (Dict. Of the Bible, Smitr.) Uma passagem do Talmud (Tract. Kiddus-chin xxii: 2) requer que um discípulo faça por seu mestre o que quer que um servo possa ser mandado fazer por seu senhor, exceto desatar-lhe os sapatos. Alguns mestres exigiam que os discípulos levassem sua humildade ao extremo de carregarem seus sapatos. A humildade de João Batista, em vista do extraordinário interesse que sua pregação despertava, é impressionante.
JAMES E. TALMAGE – Jesus O Cristo, Notas do Capítulo X, p.132.

O Testemunho de João Batista acerca de Jesus - Durante o período de isolamento de nosso Senhor no deserto, João Batista prosseguiu em seu ministério, clamando arrependimento a todos os que se detinham para ouvir, administrando o batismo aos que se apresentavam devidamente preparados e o solicitavam com pureza de intenção. O povo em geral mostrava-se grandemente preocupado com a identidade de João; e, à medida que começavam a perceber a importância real da voz (Lucas 3:4), sua apreensão transforma-se em medo. A pergunta sempre presente era: Quem é este novo profeta? Então os judeus, por cuja expressão podemos compreender os príncipes do povo, enviaram uma delegação de sacerdotes e levitas do grupo farisaico, para interrogá-lo pessoalmente. Ele respondeu sem evasivas: “Eu não sou o Cristo”, e com igual decisão, negou que fosse Elaías ou, mais precisamente, Elias, o profeta que, afirmavam os rabis, interpretando erroneamente a predição de Malaquias, deveria retornar à terra como precursor imediato do Messias. (João 1:21; comparar Malaquias 4:5. Nota 1, no final do capítulo.) Ademais, declarou não ser ele “aquele profeta”, referindo-se ao Profeta cuja vinda Moisés havia predito (Deuteronômio 18:15, 18; ver capítulo 5 desta obra), que não estava universalmente identificado na mentalidade judaica com o Messias esperado. “Disseram-lhe, pois: Quem és? para que demos resposta àqueles que nos enviaram; que dizes de ti mesmo? Disse: Eu sou a voz do que clama no deserto: Endireitai o caminho do Senhor, como disse o profeta Isaías.” (João 1:22, 23; comparar Isaías 40:3.) Os enviados farisaicos então, o interpelaram quanto à sua autoridade para batizar; em resposta, ele afirmou que a validade de seus batismos seria atestada por Um que já estava entre eles, embora eles não o conhecessem, e asseverou: “Este é aquele que vem após mim, que foi antes de  mim, do qual eu não sou digno de desatar a correia da alparca.” (João 1:25-27.)
O testemunho de João, de que Jesus era o Redentor do mundo, foi declarado tão intrepidamente quanto o fora sua mensagem da vinda iminente do Senhor. “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo”, proclamou ele; e, para que ninguém deixasse de compreender sua identificação do Cristo, acrescentou: “Este é aquele do qual eu disse: Após mim vem um varão que foi antes de  mim; porque já era primeiro do que eu. E eu não o conhecia; mas, para que ele fosse manifestado a Israel, vim eu, por isso, batizando com água.” (João 1:29-31.) Que a confirmação da presença ministradora do Espírito Santo, através da aparição material “como uma pomba”, fora convincente para João, está demonstrado pelo seu posterior testemunho: “E João testificou, dizendo: Eu vi o Espírito descer do céu como uma pomba, e repousar sobre ele. E eu não o conhecia, mas o que me mandou a batizar com água, esse me disse: Sobre aquele que vires descer o Espírito, e sobre ele repousar, esse é o que batiza com o Espírito Santo. E eu vi, e tenho testificado que este é o Filho de Deus.” (João 1:32, 34; também os versos 35,36. Nota 2.) No dia subsequente ao deste pronunciamento, João repetiu seu testemunho a dois de seus discípulos ou seguidores, ao ver Jesus passar, dizendo novamente: “Eis o Cordeiro de Deus.” (Nota 3, no final do capitulo.)
JAMES E. TALMAGE – Jesus O Cristo, Capítulo XI,  pp.134-135.

Deixando Jerusalém, Jesus e seus discípulos dirigiram-se às áreas rurais da Judeia e lá permaneceram, indubitavelmente pregando conforme a oportunidade se apresentava ou era provocada; e os que nele criam eram batizados. (João 3:22; comparar com 4:2.) O aspecto preponderante de seus primeiros pronunciamentos públicos foi o mesmo de seu precursor no deserto: “Arrependei-vos, porque é chegado o reino dos céus.” (Mateus 4:17; comparar com Marcos 1:15.) João Batista continuara seu trabalho, embora, naturalmente, desde que reconhecera Aquele Maior cuja vinda fora enviado a preparar, tivesse considerado diferentemente o significado do batismo que administrava. A princípio, batizara em preparação para Aquele que haveria de vir; agora, batizava crentes arrependidos naquele que viera.
Haviam surgido disputas entre alguns seguidores ardorosos de João e um ou mais judeus, (Nota 9, no final do capítulo.) a respeito da doutrina da purificação. O contexto (João 3:25-36.) dá pouca margem à dúvida de que estavam em questão os méritos relativos ao batismo de João e o administrado pelos discípulos de Jesus. Com desculpável ardor e bem intencionado zelo por seu mestre, os discípulos de João, que tinham estado envolvidos na disputa, foram ter com ele, dizendo: “Rabi, aquele que estava contigo além do Jordão, do qual tu deste testemunho, ei-lo batizando, e todos vão ter com ele.” Os adeptos de João estavam preocupados com o sucesso daquele a quem consideravam, de certa forma, como rival de seu amado mestre. Não havia João dado a Jesus sua primeira confirmação? “Aquele do qual deste testemunho”, disseram eles, nem mesmo se dignando designar Jesus pelo nome. Seguindo o exemplo de André e do futuro apóstolo João, o povo estava deixando o Batista e reunindo-se ao redor do Cristo. A réplica de João e seus ardorosos seguidores constitui um modelo sublime de abnegação. Foi este o teor de sua resposta: O homem recebe apenas segundo Deus lhe dá. Não me foi dado fazer a obra do Cristo. Vós mesmos sois testemunhas de que neguei ser o Cristo e declarei ter sido enviado para antecedê-lo. Ele é como o Noivo; eu sou apenas como o amigo do noivo, (Nota 10, no final do capítulo.) e servo seu; e regozijo-me grandemente por estar assim próximo dele; sua voz me dá felicidade; e assim meu gozo se cumpre. Aquele de quem falais principia seu ministério; o meu está chegando ao fim. Ele deve crescer, mas eu devo diminuir. Ele veio dos céus e é, portanto, superior a todas as coisas da terra; contudo, os homens recusam-se a receber seu testemunho. A tal Ser o Espírito de Deus não é dado em parcelas; é seu em medida plena. O Pai ama o Filho, e em suas mãos colocou todas as coisas, e: “Aquele que crê no Filho tem a vida eterna; mas aquele que não crê no Filho não verá a vida; mas a ira de Deus sobre ele permanece.” (João 3:27-36.)
Em tal resposta, sob as condições existentes, identificamos o espírito de verdadeira grandeza, e de uma humildade que poderia derivar apenas de convicção divinamente transmitida a João Batista, concernente a si próprio e ao Cristo. Em mais de um sentido, João era grande entre todos os que são nascidos de mulher. (Mateus 11:11.)Havia entrado no trabalho, quando ordenado por Deus a fazê-lo; (Lucas 3:2,3.) compreendendo que sua obra havia sido, de certa forma, superada, pacientemente aguardava sua desobrigação, continuando, entrementes, em seu ministério, conduzindo almas ao seu Senhor. O princípio do fim estava próximo. Logo seria capturado e atirado a um cárcere onde, como veremos, seria decapitado para satisfazer a vingança de uma mulher corrupta, cujos pecados João havia denunciado corajosamente. (Mateus 14:3-12.)
JESUS, O CRISTO – James E. Talmage, Capítulo XVII, pp. 159-160.

A Mensagem de João Batista a Jesus
Antes mesmo que Jesus retornasse à Galiléia após o seu batismo e os quarenta dias de solidão no deserto, João Batista foi aprisionado por ordem de Herodes Antipas, tetrarca da Galiléia e Peréia. (Mateus 4:12; Marcos 1:14; Lucas 3:19, 20; ver Nota 2, capítulo 9, pág. 114, e Nota 4, no final deste capítulo.) Durante os meses subsequentes em que nosso Senhor pregou ativamente o Evangelho, ensinando o verdadeiro significado do reino, reprovando o pecado, curando os enfermos, expulsando demônios e até mesmo ressuscitando os mortos, seu precursor, João, homem corajoso e temente a Deus, encontrava-se preso nas masmorras de Machaerus, uma das mais fortes cidadelas de Herodes. (Nota 5, no final do capítulo.)
O tetrarca tinha alguma consideração por João, pois o tinha na conta de homem santo, tendo feito muitas coisas segundo seu conselho direto ou por influência dos seus ensinamentos gerais. Na verdade, Herodes ouvira o Batista de bom grado e aprisionara-o relutantemente, para atender às importunações de Herodias, a quem Herodes chamava de esposa sob o disfarce de um casamento ilegal. Herodias havia sido, e legalmente ainda o era, esposa de Felipe, irmão de Herodes, de quem jamais se divorciara segundo a lei; e seu pretenso casamento com Herodes Antipas era adúltero e incestuoso sob a lei judaica. O Batista, destemidamente, denunciara essa associação pecaminosa. Dissera a Herodes: “Não te é lícito possuir a mulher de teu irmão.” Embora Herodes possa ter, provavelmente, ignorado esta severa reprimenda, ou pelo menos deixado passar sem punição, Herodias não o perdoou. Era ela, e não o tetrarca, quem mais odiava João; ela “o odiava, querendo mata-lo”, e conseguiu induzir Herodes a mandar prendê-lo, encarcerando-o, como primeiro passo no caminho da consumação de seu plano de vingança que tinha por objetivo executar o Batista. (Marcos 6:17-20.) Além disso, Herodes temia uma revolta do povo no caso de João ser morto por sua ordem. (Mateus 14:5.)
Durante o longo período de seu encarceramento, João ouvira muito sobre as maravilhosas pregações e obras de Cristo, que talvez tenham sido relatadas por alguns de seus discípulos e  amigos, que tinham permissão para visitá-lo. (Mateus 11:2. Note-se uma liberdade semelhante concedia a Paulo, quando preso, Atos 24:23.) Fora informado, especialmente, da milagrosa ressurreição do jovem de Naim; (Lucas 7:18; Mateus 11:2.) e imediatamente comissionara dois de seus discípulos para levarem a Jesus uma mensagem indagatória. (Mateus 11:2-6; Lucas 7:18-23.) Estes foram até a Cristo e relataram o propósito de sua visita, dizendo: “João Batista enviou-nos para te perguntar: És tu aquele que havia de vir, ou esperamos outro?” Os mensageiros encontraram Jesus ocupado em serviços caritativos; e, ao invés de lhes dar uma resposta imediata em palavras, continuou o seu trabalho, curando naquela mesma hora muitos cegos e enfermos, e outros que se achavam possuídos por espíritos malignos. E então, voltando-se para os dois mensageiros de João, Jesus disse: “Ide, e anunciai a João as coisas que ouvis e vedes: os cegos veem, e os coxos andam, os leprosos são limpos, e os surdos ouvem, os mortos são ressuscitados, e aos pobres é anunciado o evangelho. E bem-aventurado é aquele que se não escandalizar em mim.”
As palavras interrogativas dos discípulos de João foram respondidas com extraordinários feitos de beneficência e misericórdia. Quando a resposta foi transmitida a João, o profeta prisioneiro não pode ter deixado de se lembrar das predições de Isaías, de que por tais bênçãos e sinais milagrosos o Messias seria conhecido; (Isaías 35:5, 6.) e a reprovação deve ter sido convincente, ao lembrar-se João de suas próprias referências às predições de Isaías, quando proclamara, com eloquência apaixonada, o cumprimento das antigas profecias em sua própria missão e na daquele que era Mais Poderoso, e de quem havia prestado um testemunho pessoal. (Mateus 3:3; comparar com Isaías 40:3; Mateus 3:7; comparar com Isaías 59:5; Lucas 3:6, comparar com Isaías 52:10.)
A sentença final da resposta de nosso Senhor a João foi o clímax da que a precedera, e uma reprovação adicional, ainda que gentil, à vaga ideia demonstrada por João, sobre a obra do Messias. “E bem-aventurado é aquele que não achar em mim motivo de tropeço”, disse o Senhor. A incompreensão é o prelúdio da ofensa. Influenciados pelo modelo da concepção então corrente daquilo que o Messias deveria ser, o trabalho de Cristo deve ter parecido a muitos um fracasso; e aqueles que esperavam alguma súbita manifestação de seu poder na derrota dos opressores de Israel e reabilitação da casa de Davi em esplendor material, tornaram-se impacientes, e depois duvidosos; mais tarde, sentiram-se ofendidos, em perigo de rebelarem-se abertamente contra seu Senhor. Cristo foi um ofensor para muitos, porque eles, não estavam em harmonia com suas palavras e obras, escandalizaram-se nele. (Mateus 13:57; 24:10; 26:31; Marcos 6:3; 14:27; João 6:61; Nota 6, no final do capítulo.)
A situação do Batista deve ser corretamente considerada por todos os que pretendem colocar em julgamento seu propósito ao inquirir do Cristo: “És tu aquele que estava para vir?” João compreendia perfeitamente que seu próprio trabalho era o de preparação; assim o testificara e prestara testemunho público de que Jesus era aquele para quem viera prepara o caminho. Com o início do ministério de Cristo, a influência de João diminuíra, e por muitos meses ele estivera trancafiado em um cárcere, impaciente com sua inatividade forçada, sem dúvida ansiando pela liberdade, e pelos gafanhotos e favos de  mel do deserto. A popularidade, influência e oportunidades de Jesus aumentavam, enquanto as dele decresciam; e ele havia afirmado que tal situação era inevitável. (João 3:30.)
Mas, abandonado na prisão, pode ter-se desesperançado, permitindo-se considerar se aquele que era Mais Poderoso o havia esquecido. Ele sabia que, se Jesus dissesse uma palavra, a masmorra de Machaerus não poderia detê-lo; não obstante, Jesus parece que o abandonara à sua sorte, que incluía não apenas o confinamento, mas outras indignidades e tortura física. (Note-se que Jesus comparou os sofrimentos de João, no cárcere, em parte àqueles que ele próprio teria que suportar, pois infligiram a João “tudo quanto quiseram” (Mateus 17:12; Marcos 9:13.)) Parte do intento do Batista pode ter sido chamar a atenção de Cristo para o seu angustioso estado; e sob este ponto de vista, sua mensagem foi mais um lembrete do que uma simples indagação, baseada em dúvida real. Na verdade, temos bons motivos para deduzir que, ao enviar discípulos a fim de interrogar Jesus, o propósito de João foi em parte, e talvez quase totalmente, confirmar nesses discípulos uma fé perene no Cristo. A tarefa que lhes foi designada colocou-os em contato direto com o Senhor, cuja supremacia eles não poderiam deixar de perceber. Tornaram-se testemunhas pessoais de seu poder e autoridade.
O comentário de Nosso Senhor sobre a mensagem de João indicou que o Batista não possuía um pleno entendimento daquilo que abrangia o reino espiritual de Deus. Após terem os emissários partido, Jesus dirigiu-se ao povo que havia testemunhado a entrevista. Não permitiria ele que subestimassem a importância do trabalho de João. (Lucas 7:24-30; ver também Mateus 11:7-14; comparar o testemunho de Cristo sobre João Batista, dado em Jerusalém, João 5:33-35.) Lembrou-lhes a época da popularidade de João Batista, quando alguns dos presentes, e multidões de outras pessoas tinham ido ao deserto para ouvir as severas admoestações do profeta, tendo encontrado nele um carvalho firme e inflexível e não um caniço agitado pelo vento. Eles não tinham ido ver um homem em vestes finas. Aqueles que usavam roupas macias deviam ser procurados na corte do rei, não no deserto, não na masmorra onde agora se encontrava João. Eles haviam encontrado em João um profeta, sim, mais que um profeta: “E”, afirmou o Senhor, “eu vos digo que entre os nascidos de mulheres, não há maior profeta do que João Batista; mas o menor no reino de Deus é maior do que ele”. (Lucas 7:28; ver Nota 7, no final do capítulo.) Que necessidade há de um testemunho maior da integridade do Batista? Outros profetas haviam falado sobre a vinda do Messias, mas João o tinha visto, batizara-o, e tinha sido para Jesus o mesmo que um criado particular para o seu Senhor. Todavia, desde os dias da pregação do Batista até esse em que Cristo falou a seus discípulos, o reino dos céus estava sendo rejeitado violentamente, e isto a despeito de todos os profetas e até mesmo a lei fundamental terem anunciado a sua vinda, e apesar de João e Cristo terem sido abundantemente preditos.
A respeito de João, continuou o Senhor: “E, se o quereis dar crédito, é este o Elias que havia de vir. Quem tem ouvidos para ouvir, ouça.” (Mateus 11:12-15: comparar com 17:12; Lucas 1:17.) É importante saber que a designação Elias, aplicada aqui por Jesus ao Batista, é um título e não um nome pessoal, e não tem qualquer afinidade com Elias, o antigo profeta conhecido como o tesbita. (Nota 8, no final do capítulo.) Muitos daqueles que ouvira o elogio de Jesus a João rejubilaram-se, pois tinham aceito o Batista, passando posteriormente a seguir Jesus, como do menor para o Maior, como do sacerdote para o Sumo-sacerdote, como do arauto para o Rei. Mas havia fariseus e homens da lei presentes, aqueles que haviam sido tão veementemente denunciados pelo batista como geração de víboras, e que haviam rejeitado o conselho de Deus, recusando-se a atender ao chamado de arrependimento de João. (Mateus 3:7; Lucas 7:30.)
Neste ponto, o Mestre recorreu à analogia, para tornar seu pensamento mais claro. Comparou a geração incrédula e insatisfeita a crianças caprichosas que brincam, sem concordar entre si. Algumas queriam simular uma cerimônia de casamento, mas, embora tocassem flauta, as outras não dançavam; substituíram-na, então, por um cortejo fúnebre e representaram a parte dos lamentadores, mas os outros não pratearam, conforme as regras do jogo. Sempre críticos, sempre céticos, censores e difamadores por natureza, surdos e empedernidos, murmuravam. João Batista estivera entre eles como os ascéticos profetas antigos, tão sóbrio quanto qualquer nazireu, recusando-se a comer com os folgazões e a beber com os festeiros, e disseram: “Tem demônio.” Agora vinha o filho do Homem, (Página 142, capítulo XI.) sem austeridade ou maneiras de ermitão, comendo e bebendo como o faria um homem normal, hospedando-se nas casas, participando das festividades de um casamento, misturando-se igualmente com publicanos e fariseus – e eles novamente murmuravam, dizendo: “Eis aí um glutão e bebedor de vinho, amigo de publicanos e pescadores!” O Mestre explicou que tal inconsistência, tal zombaria iníqua a respeito de questões extremamente sagradas, tal oposição determinada à verdade, certamente apareceria na sua verdadeira luz, se revelaria, então, a inutilidade do conhecimento ostentado. “Mas”, disse ele, “a sabedoria é justificada por suas obras”.
Da reprovação a indivíduos incrédulos, ele passou a regiões ingratas, e censurou as cidades nas quais havia realizado tantas obras poderosas, sem que o povo se arrependesse: “Ai de ti, Corazim! Ai de ti, Betsaida! Porque, se em Tiro e em Sidom fossem feitos os prodígios que em vós se fizeram, há muito que se teriam arrependido, com saco e com cinza. Por isso eu vos digo que haverá menos rigor para Tiro e Sidom, no dia do juízo, do que para vós. E tu, Capernaum, que te ergues até aos céus, serás abatida até aos infernos; porque, se em Sodoma tivessem sido feitos os prodígios que em ti se operaram, teria ela permanecido até hoje. Porém eu vos digo, que haverá menos rigor no dia do juízo para os de Sodoma, do que para ti.” (Mateus 11:20-24; comparar com Lucas 10:13-15.)
Aparentemente deprimido pela descrença do povo, Jesus procurou fortalecer-se na oração. (Mateus 11:25-27; comparar com Lucas 10:21,22.) Com a eloquência da alma que só encontramos na comunhão angustiada de Cristo com seu Pai, ele expressou sua gratidão reverente por ter Deus conferido o testemunho da verdade aos simples e humildes, ao invés de aos grandes e letrados. Embora não o compreendessem os homens, o Pai o conhecia pelo que realmente era. Voltando-se novamente para o povo, instou-o mais uma vez a que o aceitasse, bem como ao seu Evangelho, e o convite que fez é uma das maiores efusões de emoção espiritual jamais conhecida pelos homens: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vó o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve.” (Mateus 11:28-30.) Convidou-os a vir do trabalho pesado para o serviço prazenteiro; dos fardos quase insuportáveis das exações eclesiásticas e formalismo tradicional, para a independência do verdadeiro espírito de adoração; do cativeiro para a liberdade. Mas eles recusaram-se fazê-lo. O Evangelho que lhes ofereceu era a personificação da liberdade, mas não do desregramento – impunha obediência e submissão. Mas, mesmo que fosse comparado a um jugo, o que era o seu fardo comparado à opressão sob a qual padeciam?

Morte de João Batista
Voltando a João Batista na solidão de sua masmorra, não temos qualquer notícia sobre a maneira como recebeu e compreendeu a resposta a sua pergunta, trazida pelos mensageiros. Seu cativeiro logo deveria terminar, embora não pela reconquista da liberdade na terra. O ódio de Herodias contra ele crescia, e logo apareceu uma oportunidade para que ela levasse a efeito suas diabólicas tramas contra a sua vida. (Marcos 6:21-29.) O rei celebrava seu aniversário com uma grande festa, na qual estavam presentes nobres, capitães e os oficiais mais altos da Galiléia. Para abrilhantar a ocasião, Salomé, filha de Herodias, embora não de Herodes, dançou para os convidados. Tão encantados ficaram Herodes e seus hóspedes, que o rei ordenou à donzela que lhe pedisse o que quer que desejasse, jurando que lho daria, mesmo que fosse a metade de seu reino.
Ela retirou-se para consultar a mãe sobre o que deveria pedir, e, recebendo instruções, retornou com a espantosa exigência: “Quero que imediatamente me dês num prato a cabeça de João Batista.” O rei ficou estarrecido; seu espanto foi seguido por um sentimento de tristeza e mágoa. Entretanto, temeu o vexame que lhe acarretaria a violação do juramento que fizera em presença da corte. Assim, convocando um executor, imediatamente deu a ordem fatal; e João foi na mesma hora decapitado na prisão. O carrasco retornou, trazendo um prato com o horrível troféu da vingança da corrupta rainha. A dádiva sangrenta foi entregue a Salomé, que a carregou, em desumano triunfo até sua mãe. Discípulos de João levaram o corpo e o colocaram na tumba, transmitindo a notícia de sua morte a Jesus. Herodes perturbou-se enormemente com o assassínio que havia ordenado, e quando, mais tarde, as maravilhas realizadas por Jesus lhe foram relatadas, teve medo, e disse: “João, o que batizava ressuscitou dos mortos, e por isso, estas maravilhas operam nele.” Àqueles que discordavam, o rei, atemorizado, replicava: “Este é João, que mandei degolar; ressuscitou dos mortos.” (Marcos 6:14-16.)
Assim terminou a vida do profeta-sacerdote, o precursor direto de Cristo; assim silenciou a voz mortal daquele que clamara tão poderosamente no deserto: “Preparai o caminho do Senhor.” Muitos séculos mais tarde, sua voz foi ouvida outra vez, como a de alguém redimido e ressuscitado; e sentiu-se o toque de sua mão novamente nesta dispensação de restauração e plenitude. Em maio de 1829, um personagem ressurreto apareceu a Joseph Smith e Oliver Cowdery, apresentando-se como João, conhecido em tempos antigos como o Batista, e, impondo as mãos sobre os dois jovens, conferiu-lhes o sacerdócio de Aarão, que contém a autoridade para pregar e administrar o Evangelho do arrependimento e do batismo por imersão para remissão dos pecados. (Regras de Fé, capítulo 10; também capítulo 41 deste livro.)
JESUS, O CRISTO – James E. Talmage, Capítulo XVIII, pp. 245-253.

Por vários séculos antes do nascimento de João, muitos profetas previram seu ministério e testificaram a respeito de sua grandiosidade como aquele que prepararia o caminho para o Messias. (Isaías 40:3; 1 Néfi 10:7–10) Em preparação para o ministério de João, o anjo Gabriel anunciou o nascimento de João que viria a acontecer (Lucas 1:13–19), Zacarias profetizou no dia em que João recebeu seu nome e foi circuncidado (Lucas 1:67–79), e um anjo ordenou João aos oito anos de idade para sua missão. (D&C 84:27–28) O mais alto tributo à grandiosidade de João foi prestado pelo próprio Salvador, que disse: “(…) Entre os nascidos de mulheres, não há maior profeta do que João Batista”. (Lucas 7:28)
João nasceu aproximadamente seis meses antes de Jesus. Pouco antes do nascimento de Jesus, Herodes, sentindo-se ameaçado pelo anúncio de que um novo rei dos judeus havia nascido, “mandou matar todos os meninos que havia em Belém, e em todos os seus contornos, de dois anos para baixo (…)”. (Mateus 2:16) Para proteger Jesus, um anjo apareceu a José em um sonho e instruiu-o a levar Jesus e Maria para o Egito. (Mateus 2:13–15) Para proteger João, “Zacarias fez com que a mãe o levasse às montanhas, onde se criou, alimentando-se de gafanhotos e mel silvestre”. (Ensinamentos do Profeta Joseph Smith, sel. Joseph Fielding Smith, p. 254.) João começou seu ministério público muitos anos depois, pregando a princípio no deserto e depois em Jerusalém e “toda província adjacente ao Jordão”. (Mateus 3:5)
O NOVO TESTAMENTO – Manual do Professor de Doutrina do Evangelho, lição 4, p.14.

João Batista foi “o mais destacado portador do Sacerdócio Aarônico de toda a história”.
O NOVO TESTAMENTO – Manual do Professor de Doutrina do Evangelho, lição 2, p.06.

O filho de Isabel tornou-se conhecido como João Batista. Assim como ocorreu com Jesus, filho de Maria, bem pouco foi registrado a respeito da infância e juventude de João. Uma única frase conta-nos tudo o que sabemos de sua vida desde o nascimento até seu ministério público: “E o menino crescia, e se robustecia em espírito. E esteve nos desertos até ao dia em que havia de mostrar-se a Israel” (Lucas 1:80).
A mensagem de João era sucinta. Ele pregou fé, arrependimento, batismo por imersão e o dom do Espírito Santo concedido por uma autoridade superior à que ele possuía. “Eu não sou o Cristo”, disse a seus fiéis discípulos, “mas sou enviado adiante dele”. (João 3:28). “Eu, na verdade, batizo-vos com água, mas eis que vem aquele que é mais poderoso do que eu (...); esse vos batizará com o Espírito Santo e com fogo.” (Lucas 3:16).
Então João Batista batizou Jesus Cristo. Posteriormente, Jesus testificou: “Entre os que de mulher têm nascido, não apareceu alguém maior do que João, o Batista” (Mateus 11:11).
Todos nós precisamos de pontos de referência — modelos a serem seguidos. João Batista dá-nos um exemplo perfeito de humildade sincera, ao se submeter sempre Àquele que estava prestes a vir, o Salvador da humanidade.
PRESIDENTE THOMAS S. MONSON – A Liahona, outubro de 2007, p.3.

Assisti a [uma] reunião no Templo [em 29 de janeiro de 1843]. (...) Declarei que havia duas perguntas que me haviam sido feitas a respeito do tema de meu discurso do último domingo que eu havia prometido responder em público e disse que aproveitaria aquela oportunidade.
A pergunta surgiu a partir desta declaração de Jesus: ‘Entre os nascidos de mulheres, não há maior profeta do que João Batista; mas o menor no reino de Deus é maior do que ele’. [Lucas 7:28.] Em que sentido João era considerado como um dos maiores profetas? Sua grandiosidade não poderia ter-se baseado em seus milagres. [Ver João 10:41].
Primeiro. Foi-lhe confiada a missão divina de preparar o caminho diante da face do Senhor. A quem foi confiada tamanha responsabilidade antes ou depois dele? A ninguém.
Segundo. Foi-lhe confiada a importante missão de batizar o Filho do Homem, e isso foi exigido de suas mãos. Quem mais teve a honra de fazer isso? Quem mais teve tamanho privilégio e glória? Quem mais conduziu o Filho de Deus às águas do batismo e teve o privilégio de ver o Espírito Santo descendo sob a forma de pomba, ou no sinal da pomba, em testemunho dessa ministração? O sinal da pomba foi instituído antes da criação do mundo, uma testemunha do Espírito Santo, e o diabo não pode vir no sinal de uma pomba. O Espírito Santo é uma pessoa e tem a forma de uma pessoa. Ele não está confinado na forma de uma pomba, mas no sinal da pomba. O Espírito Santo não pode transformar-se em uma pomba; mas o sinal da pomba foi dado a João para confirmar a veracidade do ocorrido, porque a pomba é um emblema ou sinal de verdade e inocência.
Terceiro. João, naquela época, era o único administrador legal dos assuntos do reino que havia na Terra e possuía as chaves do poder. Os judeus tinham que obedecer a suas instruções ou seriam condenados, por sua própria lei; e o próprio Cristo cumpriu toda a justiça sendo obediente à lei que Ele dera para Moisés no monte e assim a magnificou e a honrou, em vez de destruí-la. O filho de Zacarias tomou as chaves, o reino, o poder e a glória dos judeus, pela unção sagrada e decreto do céu e esses três motivos fazem dele o maior profeta já nascido de uma mulher.
Segunda pergunta: Em que sentido o menor no reino do céu é maior do que ele? [Ver Lucas 7:28.]
Em resposta, perguntei: A quem Jesus Se referiu como sendo o menor? Jesus era visto pelas pessoas como Aquele que menos tinha direito ao reino de Deus sendo [aparentemente] quem menos merecia ter credibilidade como profeta aos olhos deles; era como se Ele estivesse dizendo: ‘Aquele que é considerado o
menor entre vocês é maior do que João, ou seja, Eu mesmo’.
PROFETA JOSEPH SMITH – Ensinamentos dos Presidentes da Igreja, Lição 06, p.85-87.

1. João Batista, considerado nazireu – As instruções do anjo Gabriel a Zacarias sobre seu filho prometido, João, o qual não deveria “beber vinho ou bebida forte”, e a vida adulta de João como habitante do deserto, aliada ao hábito que tinha de usar roupas rústicas, tem levado comentaristas e especialistas bíblicos a supor ter ele sido nazireu toda a sua vida.
Deve ser lembrado, entretanto, que em nenhum lugar das escrituras João Batista é chamado explicitamente de nazireu. Um nazireu, ‘que significa consagrado ou separado, era aquele que, por voto pessoal ou feito por ele por seus pais, era designado para alguma obra especial ou tipo de vida que incluísse abnegação. (Ver página 67). O Comparative Dictionary of the Bible, de Smith, diz: “No Pentateuco, não há menção de nazireus por toda a vida; mas são dadas as regulamentações para o voto de um nazireu temporário.” (Números 6:1-2).
“Durante o termo de sua consagração, o nazireu era obrigado a se abster de vinho, uvas e qualquer produto da vinha, assim como de qualquer bebida intoxicante. Era proibido de cortar os cabelos de sua cabeça ou de se aproximar de qualquer corpo morto, mesmo que fosse o de seu parente mais próximo.” O único exemplo de nazireado por toda a vida, indicado nas Escrituras, é o de Sansão, a cuja mãe foi requerido que se pusesse sob as observâncias nazirenas antes de seu nascimento, e o menino deveria ser um nazireu de Deus, desde seu nascimento (Juízes 13:3-7, 14). Pela rigidez de sua vida, deve-se dar crédito a João Batista por toda a disciplina pessoal requerida dos nazireus, estivesse ele sob voto voluntário ou de seus pais, ou mesmo que não existisse qualquer voto.
JESUS, O CRISTO – p.84.

7. A Grandeza da Missão de João Batista. – Jesus assim deu testemunho da natureza superior da missão de João Batista: “Em verdade vos digo que, entre os que de mulher tem nascido, não apareceu alguém maior do que João Batista; mas aquele que é o menor no reino dos céus é maior do que ele” (Mateus 11:11; comparar com Lucas 7:28). Elucidando a primeira parte deste testemunho, o profeta Joseph Smith disse, durante um discurso que proferiu no dia 24 de maio de 1843 (“History of the Church”, na data mencionada): “Não podia ser em consequência dos milagres que João realizou, pois não realizou milagre algum; mas porque – Primeiro, fora-lhe confiada a divina missão de preparar o caminho diante da face do Senhor. A quem foi confiada missão semelhante, antes ou depois? A homem algum. Segundo, foi incumbido de batizar o Filho do Homem. Quem jamais realizou tal ato? Quem jamais recebeu tão grande privilégio ou glória? Quem jamais conduziu o Filho de Deus ás águas do batismo, contemplando o Espírito Santo descer sobre ele, pelo sinal de uma pomba? Ninguém. Terceiro, João naquela ocasião, era o único administrador legal que possuía as chaves do poder que existia na terra. As chaves, o reino, o poder, a glória, tinham sido afastados dos judeus, e João, filho de Zacarias, por bênçãos divinas e decreto celeste, possuía as chaves do poder naquela época”.
A última parte da afirmação do Senhor – “mas aquele que é o menor no reino dos céus é maior do que ele” (João), tem suscitado interpretações e comentários diferentes. O verdadeiro significado pode ser que, embora o destaque de João entre os profetas fosse extraordinariamente grande, ele não havia aprendido, por ocasião do incidente em pauta, o propósito pleno da obra do Messias, e certamente teria que fazê-lo antes de ter condições para ser admitido no reino dos céus; portanto, o menor daqueles que, através de conhecimento adquirido e obediência prestada, estivessem preparados para um lugar no reino sobre o qual Jesus ensinara, era maior do que João Batista naquela ocasião. Por inspiração, aprendemos nos últimos dias que “é impossível ao homem ser salvo em ignorância” (Doutrina e Convênios 131:6), e que “A glória de Deus é inteligência, ou, em outras palavras, luz e verdade” (Doutrina e Convênios 93:36). A indagação de João Batista mostrou que na época, faltava-lhe conhecimento, que seus esclarecimentos eram imperfeitos e que não podia compreender toda a verdade sobre á morte preordenada e subsequente ressurreição de Cristo como Redentor do mundo. Mas não nos devemos esquecer de que Jesus, de forma alguma, insinuou que João permaneceria em situação inferior à do menor no reino dos céus. Aumentando seu conhecimento das verdades vitais do reino, e prestando obediência a elas, certamente progrediria, tornando-se grande no reino dos céus como o era entre os profetas da terra.
JESUS, O CRISTO – NOTAS DO CAPÍTULO XVIII – p.266-267.

8. João Batista, o Elias que Deveria Vir. – Nos dias de Cristo, o povo agarrava-se à crença tradicional de que o antigo profeta Elias retornaria ao mundo em pessoa. A respeito desta tradição, o Commentary, de Dummelow, diz sobre Mateus 11:14: “Supunha-se que sua atividade principal (a de Elias) seria resolver questões, dúvidas e dificuldades sobre cerimônias e ritos, e que ele devolveria a Israel (1) o pote de ouro do maná, (2) o vaso contendo o óleo consagrado, (3) o vaso contendo as águas da purificação, (4) a vara de Aarão, que brotara e dera fruto”. Não existia qualquer afirmação escriturística para apoiar essa crença. Que João deveria ir adiante do Messias, no espírito e poder de Elias, foi declarado pelo anjo Gabriel no seu anúncio a Zacarias (Lucas 1:17); e o nosso Senhor tornou bem claro o fato de que João era o Elias predito. “Elias”* é tanto um nome quanto um título. Por meio de revelação, nos tempos atuais, tivemos conhecimentos da individualidade separa de Elaías e Elias, cada um deles tendo aparecido em pessoa e transmitido a profetas modernos os poderes específicos de seus respectivos cargos (Doutrina & Convênios 110:12, 13). Soubemos que a tarefa de Elaías é a da restauração (Doutrina & Convênios 27:6, 7; 76:100; 77:9, 14). No dia 10 de março de 1844, encontramos o seguinte registro (History of Church), como testemunho do profeta Joseph Smith:
* Nota do Tradutor: Para distinguir entre os dois personagens, foi adotada a grafia “Elaías” para o profeta bem como para o título de “precursor”, que caracteriza a função de João Batista. O nome “Elias” é usado para o profeta chamado o Tesbita. Infelizmente, as versões da Bíblia não esclarecem esta distinção e quando aparecem em nossas citações, causam confusão. Para maior esclarecimento, leia-se: “Uma obra maravilhosa e um assombro”, capítulos 13 e 17.
O espírito de Elaías prepara o caminho para uma revelação maior de Deus, que é o Sacerdócio de Elaías, ou o Sacerdócio ao qual Aarão foi ordenado. E quando Deus envia um homem ao mundo para fazer a preparação para um trabalho maior, possuindo as chaves do poder de Elaías, isto tem sido denominado doutrina de Elaías, desde o começo do mundo.
“A missão de João limitou-se a pregar e batizar, mas o que ele fez tinha força legal. E quando Jesus Cristo se aproximava de discípulos de João, ele os batizava com fogo e com o Espírito Santo.”
“Os apóstolos foram dotados de um poder maior que o de João: seu trabalho estava mais sob o poder e espírito de Elias do que de Elaías.”
“No caso de Felipe, quando esteve em Samaria, com o espírito de Elaías, batizou tanto homens quanto mulheres. Quando Pedro e João tiveram conhecimento disto, foram até lá, impuseram as mãos aos batizados e estes receberam o Espírito Santo. Isto mostra a diferença entre os dois poderes.”
“Quando Paulo encontrou alguns discípulos, perguntou-lhes se haviam recebido o Espírito Santo. Eles disseram que não. Quem batizou-os, então? Fomos batizados no batismo de João. Não, não foram batizados no batismo de João, ou teriam sido batizado por João. E então Paulo batizou-os novamente, pois sabia qual era a verdadeira doutrina, e sabia assim que João não os tinha batizado. E eu estranho muito que, homens que tem lido as Escrituras do Novo Testamento, estejam tão distantes destas coisas.
“O que desejo fixar em vossa mente é a diferença de poder nas diversas partes do Sacerdócio, de forma que, quando qualquer homem chegar até vós, dizendo: ‘Eu possuo o espírito de Elaías’, podereis saber se a afirmação é verdadeira ou falsa. Pois qualquer homem que possua o espírito e o poder de Elaías não transcenderá os seus limites.”
“João não ultrapassou seus limites, mas fielmente realizou a parte que lhe cabia; e cada porção do grande edifício deve ser preparada corretamente e designada para o lugar adequado; e é necessário sabermos quem possui as chaves do poder, e quem não as possui, para que não sejamos enganados.”
“A pessoa que possui as chaves de Elaías realiza uma obra preparatória.”
“Este é o Elaías mencionado nos últimos dias, e eis aqui a rocha contra a qual muitos se esfacelam, pensando que esse tempo já passou, nos dias de João e Cristo. Mas o espirito de Elaías me foi revelado, e eu sei que é verdadeiro. Portanto falo arrojadamente, pois sei que minha doutrina é verdadeira.”
JESUS, O CRISTO – NOTA 8 DO CAPÍTULO XVIII – pp.267-268.

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